Publicado em , por Pedro Couto e Santos
A última vez que escrevi, tinhas feito há pouco tempo seis meses. Agora, aproximas-te perigosamente dos nove, sem grande piedade.
De um dente tímido, passaste a quatro, bem visíveis e funcionais: já dás conta de uma bolacha quase inteira, usando habilmente os dentes para lhe arrancar pedaços. Bom, eu consigo comer uma bolacha inteira de uma só vez e tenho trinta e tal dentes. Mas não vamos por-nos com estas rivalidades pai-filho já.
Parece, portanto, que comer, para ti, é assunto arrumado. Mas não é.
Na sexta-feira passada, depois de teres passado uma semana a vomitar quase diariamente, pelo menos uma das refeições, decidiste que comer já não era para ti. Assim, de um dia para o outro deixaste de querer comer. A sopa, que nem sempre era fácil, admitamos, recusaste. A papa – de que nem desgostavas – cuspiste fora. E a fruta, que nunca sequer pensaste recusar, mandaste-a comer í tua mãe.
No Sábado fomos a casa dos teus avós paternos, para festejar o aniversário da tua tia Marta e tu, que já tinhas rejeitado a sopa e a fruta em casa, emborcaste arroz de frango e cí´dea de pão, como se fossem os teus pratos favoritos.
Segundo a tia Luísa, educadora de infância há várias décadas, não é incomum putos da tua idade fartarem-se de ser alimentados í colher e passarem a comer muito melhor se lhes for dada comida sólida, de preferência com a opção de serem eles próprios a alimentar-se.
E foi precisamente isso que se passou: primeiro meti-te uma cí´dea de pão na mão, com a qual te foste alimentando e depois a tua avó Mila e a tua prima Inês estiveram a cortar-te e dar-te pedacinhos de frango com arroz, í mão.
E contigo parece ser assim: quando aprendes uma coisa, desistes imediatamente do que era hábito até aí. Aprendeste a sentar-te sozinho e desde aí, ter-te deitado de costas é quase impossível – chegas mesmo a fazer uma grande birra quando te deito para trás no banho para lavar o cabelo. Coisa que costumavas aceitar bem.
E agora isto. Passaste a querer alimentar-te sozinho, portanto ai de quem se aproximar de ti de colher em punho.
O resultado, evidentemente, é que tens comido bastante pior durante o dia e depois -Â oh joy – precisas de acordar duas vezes durante a noite para mamar. Que bom. Duas e meia da manhã: Tiago a berrar. Seis da manhã: Tiago a berrar.
Tendo em conta que há que tempos que dormes a noite toda, esta mudança é uma violenta surpresa para os teus paizinhos.
Mas pronto… já percebemos: estás em fase de aprendizagem e até perceberes como comer mais comida do que a que espalhas pelo chão, roupa e cabelo, as coisas vão voltar um bocadinho atrás.
As últimas refeições têm sido uma diversão, portanto. Agarras peixe e batatas do prato que tentas levar í boca, raramente com sucesso. Nós tentamos entretanto dar-te colheradas de sopa que tu umas vezes aceitas e outras rejeitas ofendido. No fim, é um totoloto: ficará a (pouca), comida no estí´mago ou virá toda parar cá fora?
Como ainda tens pouca experiência com comida sólida, í s vezes engasgas-te e para te livrares do engasganço: tau – vomitas tudo.
Aconteceu ainda há pouco, com o jantar.
Depois de muito esforço, tinhas comido um montinho de peixe com cenoura e batata e meio boião de sopa, mas o último pedacinho de peixe encalhou e pumba: tudo para fora outra vez. É desesperante. Mesmo sabendo que ainda estás a aprender, não deixa de ser frustrante imaginar que aquela comidinha toda já lá estava e afinal voltou toda para trás.
E este teu gosto por abraçar imediatamente a nova etapa evolutiva, negando a anterior significa que pegar uma colher para te voltar a tentar encher o estí´mago, está fora de questão.
E os boiões de fruta, que só de sentir o cheiro te faziam abrir a boca í espera de uma colherada? Népias, nem isso.
Mas pronto, tudo bem: já tens um pratinho térmico, montes de colheres e o teu próprio lugar í mesa. Já percebeste que a comida se agarra com a mão e se mete na boca. Agora olha… safa-te!
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pois foi o meu primo mais lindo já conseguiu comer sozinho.