Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Apercebi-me recentemente de que não existem artigos profundos sobre xuning na internet. Ou melhor, não fiz a mínima pesquisa, mas apeteceu-me escrever sobre o assunto e decidi apresentar-me não só como pioneiro como também como especialista.
É assim que se chega ao topo: mentindo. Isso aprendi com a política.
O que é xuning? A etimologia é popular e advém da justaposição da palavra “xunga” e da palavra “tuning”. Vale a pena lembrar que um xunga é uma pessoa básica, com pouco conhecimento de comunicação verbal, normas sociais aberrantes e uma tendência para o inter-acasalamento e que tuning é uma palavra inglesa significando “afinamento”.
E podem já voltar para a escola todas as pessoas que estiverem a ler-me e que sintam a tentação de me mandar um mail a avisar que se escreve “tunning”. Basta um conhecimento básico de inglês para perceber que “tuning” não leva dois “n”, caso contrário teria uma pronunciação completamente diferente.
Bom, digo “voltar para a escola”, partindo do princípio que alguns de vocês têm, efectivamente, uma educação.
Xuning é portanto afinação de automóveis levada a cabo por xungas. O xuning distingue-se do tuning de várias maneiras: na generalidade dos casos, o tuning começa no motor e outras partes móveis do veículo, tentando dar-lhe mais potência, melhor performance, comportamento dinâmico e essas paneleirices automobilísticas e, geralmente, acaba por alterar o aspecto do carro com o mesmo objectivo: redução de peso, modificação do corpo para obter mais aerodinâmica, etc.
O xuning é a arte de alterar o aspecto exterior de um veículo, conferindo-lhe detalhes “desportivos”, tornando o carro geralmente mais pesado, barulhento e foleiro, sem por isso ser especialmente mais rápido ou ágil.
Tampão de alumíno
Um dos apetrechos de xuning mais vistos nas ruas é o autocolante colocado na tampa de acesso ao depósito de gasolina que simula um tampão de alumínio, semelhante aos encontrados nalgumas motos.
Não consigo imaginar ninguém a acabar de colar uma destas trampas no seu depósito a olhar para a obra e achar que está impecável. É foleiro, não serve qualquer propósito e fica sempre mal colado.
Gosto especialmente quando o génio tem que cortar um pedaço do autocolante para conseguir adaptar o autocolante a uma qualquer forma menos plana do seu automóvel. Não menos brilhante são gajos que colam autocolantes redondos em tampas rectangulares… eu sei, eu sei: geometria é uma ciência complexa.
Falsas entradas de ar
Há coisa mais patética do que colar um tupperware, cortado ao meio, em cima do capot do carro para fingir que é uma entrada para arrefecer o turbo que o carro nem sequer tem? Ainda mais lindas são as que têm um bocado de rede de capoeira a fingir de “favo de abelha”. Pura beleza!
Quão anormal é preciso ser-se para achar que o Peugeot 205 a cair de podre só pode ser melhorado com a adição desta ideia deficiente? Suponho que o xunga médio não tenha qualquer espécie de sentido crítico.
Aliás, no fundo, falta de sentido crítico é um dom da população no geral.
Plásticos pintados
Uma das características dos carros desportivos é que têm os plásticos na cor da carroçaria, vai daí, o xunguinha vai ao Leroy e compra duas latas de esmalte vermelho e toca de pintar o pára-choques do Opel Corsa de 86 de vermelho.
Fica ainda mais bonito quando o Sol começa a descascar o esmalte. Sem dúvida nenhuma que o carro ganha um ar agressivo na estrada! Sim… agressivo como em: “aquele idiota deve ser perigoso ao volante, afasta-te dele!”
Pontas de escape falsas
Uma modificação que geralmente melhora a performance dos automóveis é a troca do sistema de escape por um mais eficiente. O motor livra-se dos gazes com mais facilidade e consegue oferecer mais meio cavalo ou dois de potencia.
Como o xunga não tem dinheiro para mandar substituir todo o sistema de escape do seu Fiat Punto, toca de comprar umas ponteiras cromadas que se põem sobre o velho escape de lata escaqueirada para fingir que tem um sistema de escape todo pipi. Patético.
Super subwoofer a passar música de merda
Aqui está algo sem o qual o verdadeiro xuner não pode passar. Aliás, suspeito que a maior fatia do orçamento do xuner vá para o sistema de som. Já que o carro não anda nada, o melhor mesmo é fazer-se notar passeando-se pelas ruas secundárias da cidade a bombar a maior merda destilada de euro-techno e hip-hop de Chelas que for possível.
O volume é ensurdecedor e a música é tão fatela que faz virar cabeças. Cabeças de pessoas que pensam: “mas quem é a aventesma que está a ouvir esta trampa?!”
Asa do tamanho de um banco de jardim
Como, na generalidade, os carros dos xuners são latas velhas a cair de podre, é conveniente que estejam equipados com uma asa traseira do tamanho de um banco de jardim – daqueles antigos em ripas. É que, quando o carro parar de vez, pelo menos têm onde se sentar enquanto esperam pelo reboque.
Lembro-me de ter visto uma vez um Fiat Uno com uma asa tão grande atrás que estive vai não vai para experimentar dar-lhe um toquezinho para ver se o carro se virava com o peso daquela aberração.
O boné
O boné não é um acessório para o carro: é um acessório para o condutor. Acho que está cientificamente provado que 99,9% de todos os xuners usam boné. E usam-no sempre: no trabalho (nas obras), na cama, no duche (mensal) e, claro, ao volante.
Como se o automóvel já não falasse pelo QI do seu dono, este apresenta-se constantemente com aquele apetrecho de cabeça – normal e aceitável nalgumas situações – a toda a hora e todo o momento. Com um detalhe: o boné do xuner está ajustado para a cabeça de uma criança de 6 anos (que é, em média, a idade mental do xuner), tornado o boné mais um bibelot pousado na mona do que propriamente um chapéu cobrindo a dita.
Embora não mereçam parágrafos – porque não me apetece – não nos esqueçamos das esponjas nos cintos de segurança e coberturas de neoprene para os bancos, com a palavra “racing” escrita; pedais e manete de mudanças em plástico cromado; CD pendurado no espelho para enganar os radares; autocolantes com desenhos “tribais” e/ou letras chinesas colados na carroçaria; LEDs nos mija-mija; uma bandeira de Portugal na chapeleira; bandanas nos encostos de cabeça e, quase sempre, um grupo de grunhos que não tenham mais nada para fazer senão andar í pendura, para trás e para a frente, nos subúrbios aos fins de semana.
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A ouvir: Iron Maiden – Run To The Hills
via FoxyTunes
A acrescentar só mesmo as “luzinhas” negras de levitação por baixo do carro e tens um carro um carro nave espacial do “camandro”…
não te esqueças das luzinhas azuis por baixo do carro e do belo autocolante gigante da ALPINE colado no vidro de trás :)
Estás a esquecer-te das biatchas que por vezes acompanham estes senhores.
Eu tenho uma teoria acerca dos sistemas de som dos carros xunados. Eu acho que eles põem um CD na aparelhagem que reproduz os barulhos de um motor a sério, porque é impossível que os corsas de 89 tenham aquele som. Só pode ser da aparelhagem.
Eu tenho mais a teoria que a musica esta alta pois ja anteriormente tentaram manter uma conversa durante a viagem de 2mins e nao conseguiram… por isso a musica alta evita que tenham de falar , logo ,dizem menos asneiras e ficam menos cansados.
Ah… esqueces-te das vantagens de retirar a panela do escape!
Falta aí o rádio a ouvir rap da tanga tão alto que distorce o som emitido pelas colunas rascas, não se percebendo a ponta d’um corno!
De resto, está brutal! Hehehehe.
Rui
E vá lá que a moda das jantes com spinners inda não pegou por Portugal…! LOL.
Belo texto!!
Meu filho,
Acabaste de prestar um grande serviço í nação
Mas esqueceste-te de enunciar as jantes de plástico
faltam as jantes que giram