Publicado em , por Pedro Couto e Santos
O que é uma cover version? Uma forma de homenagem que um músico faz a outro, ou uma maneira de ganhar pipas de massa sem ter que, efectivamente, saber escrever música de jeito?
Umas vezes é uma e outras, outra, acredito.
Por exemplo, se Sting interpretou “Little Wing”, de Jimi Hendrix, foi, provavelmente por gostar da música – e com razão: é uma das melhores canções de todos os tempos – mas custa-me um pouco a crer que os Guns’n’Roses tenham escolhido gravar “Live and Let Die” como homenagem a Paul McCartney. Parece-me mais provável que tenham visto nessa composição do inglês para a banda sonora do filme de James Bond com o mesmo título, um bom hino rock prontinho para ser um pouco mais guitarrado e valer umas massas.
E, confesso, as ‘versões’ são uma antiga paranóia minha. Por duas razões (e não por “duas ordens de razões”, como algumas pessoas dizem, para tentarem parecer mais importantes): por um lado porque quando gosto de uma música tenho curiosidade em ouvi-la re-interpretada por diversos músicos e, por outro lado porque algo dentro de mim range e se contorce de dor quando alguém diz “Gosto muito do Rod Stewart, especialmente do Downtown Train”.
Ou… “Metallica é uma granda merda! Gosto de bandas mais alternativas, como Primus. Uma das minhas faixas preferidas deles é The Thing That Should Not Be!”
Portanto, aqui vai alguma sabedoria, completamente grátis: “The thing that should not be” é de facto uma música dos Metallica, como muitos saberão e outros já terão percebido. “Downtown train”, cantado em tom romântico por Rod Stewart é uma música deprimente de Tom Waits, como toda a gente devia saber.
Do Tom Waits também o original de “Jersey girl”, que o Bruce Springsteen toca.
“Nothing compares 2 u”, o êxito estrondoso da psicótica Sinéad O’Connor, é uma música do Prince. Já agora, do Prince é também “Manic monday”, das Bangles, por exemplo, ou, mais recentemente, “How Come U Don’t Call Me Anymore”, cantado pela Alicia Keys.
Aliás, a quantidade de êxitos dos anos 80/90 que são músicas do Prince é francamente superior í média da soma do quadrado dos catetos.
Whatever that means.
“Planet caravan”, a última faixa do “Far beyond driven”, dos Pantera, é uma música dos Black Sabbath.
“Easy”, famosíssimo durante os anos 90, do álbum “Angel dust”, dos Faith No More é, como é óbvio, uma música dos Commodores, escrita pelo Lionel Richie em 1977. E se o Mike Patton tem sentido de humor í cerca do assunto, muitos fãs dos FNM na altura recusavam-se a aceitar que uma das músicas favoritas da sua banda favorita fosse escrita pelo autor de “Hello”.
Já conheci pessoas que não sabiam que “Comfortably Numb”, interpretado (horripilante e desfigurantemente), pelos Scissor Sisters, é uma faixa do “The Wall”, dos Pink Floyd. Mas ok, é preciso ser-se muito ignorante para não saber isso.
“Working class hero” é uma música do John Lennon, recentemente re-interpretada pelos Green Day, bem como pelo(s) Marilyn Manson.
“Behind blue eyes” é uma música dos Who e não dos Limp Bizkit.
“Across the Universe” é uma música dos Beatles e não da Fionna Apple.
A “Alabama song”, aka “Whiskey bar”, que tantos adolescentes reverenciaram quando eu era puto, como hino alcóolico dos Doors, é uma música de 1930, composta por Kurt Weill com letra de Bertolt Brecht.
“Knocking on heaven’s door” é uma (de muitas), faixas de Bob Dylan gravadas por várias bandas, notoriamente os Guns’n’roses.
E uma curiosidade noutro estilo: o esmagador êxito da boy band Take That, “Could it be magic”, é uma faixa do “verdadeiro artista”, Barry Manilow, de 1975.
E finalizo, porque senão não saio daqui hoje com “Hurt”, provavelmente uma das melhores músicas escritas pelo Trent Reznor, aka, Nine Inch Nails e interpretada, pouco antes de morrer, por Johnny Cash… que infelizmente resolveu alterar a frase “I wear this crown of shit”, para “I wear this crown of thorns”, dando um tema cristão í música que não faz lá falta nenhuma, but there you go.
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Também convém (aproveitando o balanço) lembrar a quem passa que “The Man Who Sold The World” é uma música de David Bowie, e não dos Nirvana. ;)
Artigo muito interessante que aqui tens Pedro. Eu tenho uma paranóia por pessoas que escrevem a própria música que interpretam, por isso vou sempre procurar saber se é uma versão ou não e em último caso, mesmo que não seja uma versão, se foi escrita, ou não pelo artista. Não é que saber interpretar bem uma canção não tenha valor, mas artistas que são famosos í s custas de músicas que não foram feitas por eles não é coisa que aprecie grandemente, faz-me perder o interesse. Para mim versões são coisa para b-sides ou concertos, por melhor que seja a interpretação, e há grandes interpretações, como também há decalques do original. Artistas cujos primeiros singles são versões e que como tu dizes ganham pipas de massa í custa disso para mim não tem grande valor. E eventualmente têm que mostrar material próprio e muitos não se safam. Têm um hit e acabou. Assim é a selecção musical natural, separação dos artistas que fazem versões como homenagem (ao compositor ou í música) e aqueles que fazem versões para ganharem dinheiro.
A história das covers já vem de trás. “My Way”, imortalizado por Frank Sinatra, é um original do francês Claude François (“Comme d’habitude”), adaptado para “americano” pelo “crooner” Paul Anka; “House of the Rising Sun” não passa de uma canção tradicional (tipo “Malhão, Malhão”), adaptada por Alan Price para The Animals, e depois reinventada por 457 tipos; “Jealous guy” não é do meloso Bryan ferry e dos seus Roxy Music – é do Lennon; assim como “#9 Dream”, agora com versão dos REM;o Bob Dylan, então, tem tantas versões das suas canções, que dava para escrever um livro: “Mr. Tambourine Man” é dele, não dos Byrds, “Like a Rolling Stone”, é dele, não dos Rolling Stones, “The Times they are a-changing” é dele, não de Bryan Ferry, “Just Like a Woman”, é dele, não de Joe Cocker (aliás, Joe Cocker foi especialista em covers – reinventou “With a Little help from My friends” e “She came in Trhough the Bathroom Window”, dos Beatles, “I sahll be released”, outra do Dylan, “Summer in the City”, dos Lovin’ Spoonful, etc). Parece-me, portanto, que o Dylan é capaz de superar o Prince, no que respeita a versões, até porque tem uma carreira mais longa e canta mal í brava… está mesmo a pedir que alguém cante as suas canções como deve ser…
Agora, só uma pequena nota, em relação ao comentário da Rita. Segundo ela, só o Rossini devia interpretar as áreas das suas óperas… Eh pá, há-se haver sempre “cantores” e/ou “intérpretes”…
e ainda tem Passenger, que não é do Capital, mas da Siouxsie and the banshees…….. Starmam , que não é do engenheiros, é do David bowie…….. always on my mind, que não é do petshop boys e sim do elvis………..tem king of pain que só burro nao sabe de quem é……..achando que é Alanis….
Queria saber se aguém pode me dizer o nome da banda que tocava KISS , do Prince , em ritmo de boate, que tocava no fim dos anos 80, início 90?? Lembram…???
O Malcom McLaren fez uma versão do Kiss, com a voz do Tom Jones, por exemplo…
tu nem me fales da cover do hurt, que agora meio mundo de imberbes acha que é uma música do cash, epá, sem ofensa para o cash, mas F*** OFF already…ando tão farta dessa história…
Pois… já li para aí algures dizer que a música era brilhante, mas a versão de NIN não prestava :P
Bunch o’wankers.