Nova lei do tabaco

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

A nova lei do tabaco já foi aprovada na generalidade, sem votos contra. Curiosamente, o partido ecologista absteve-se. Não percebo para que serve um partido ecologista.

Nos últimos meses a minha opinião sobre o acto de fumar modificou-se ligeiramente: costumava achar que isso é com cada um, desde que não me chateiem. E é verdade, mas acrescento um detalhe: epá… é tão pateta, fumar. O que é que eu hei-de fazer? Parece-me pateta. Não tem nada a ver com ser um feroz anti-tabagista, ou alguma espécie de auto-nomeado salvador do pulmão alheio, cheio de convicções e superioridade moral… simplesmente a coisa parece-me pateta.

Assim, só: pateta. Não é estúpido, nem idiota, nem horrí­vel, nem destruidor de vidas, nem assassino de criancinhas, mas sinceramente… pateta.

Ai o meu cigarrinho, na pontinha dos dedinhos, olha a minha pose, olha o meu fumo, envolvendo-me numa névoa de mistério e sedução… Olha só como pareço um poeta, ou um escultor, ou assim, ou uma estrela de rock, ou uma socialite (tudo depende da posição do cigarro na mão), olha, olha! Pareço um fadista da Mouraria, assim com a coisa ao canto da boca.

É ou não é pateta?

Agora outro detalhe. Li no site da SIC:

O deputado do CDS/PP Hélder Amaral afirmou que a nova lei irá penalizar mais os fumadores de cigarros do que os consumidores de cocaí­na, atribuindo-lhes multas mais pesadas quando estes praticarem o ví­cio.”

O que faz pensar, ao senhor Hélder Amaral, que os viciados em nicotina são melhores que os viciados em coca? Ou que os segundos são piores que os primeiros? Porquê esta comparação? Parece-me que deve ser inspirada na campanha das novas oportunidades… parte do princí­pio que consumidores de cocaí­na não têm valor nenhum e depois faz a sua afirmação (provavelmente, porque acha que o cigarro entalado entre o indicador e o polegar, virado para a palma da mão, lhe dá um estilo de artista Belga dos anos 60).

E o mais irónico é que se eu snifar coca na mesa do meu restaurante favorito, não incomodo ninguém. Mas a coca também é uma droga um bocado a atirar para o fashion, não é? Também há vários acessórios e maneiras de snifar e poses que se podem adoptar no momento.

Pode-se snifar í  agarrado, ou í  high-society, com um tubinho de aço cirurgico.

Não… nada disto é hardcore o suficiente. A única droga que merece respeito é o cavalo: é feio, é sujo, obriga í  perfuração do corpo e deixa o consumidor num estado verdadeiramente lastimoso em pouco tempo. Ninguém no seu devido estado de sanidade mental consumiria heroí­na para ter estilo.

Bom e daí­… estou a pensar nuns garrotes fabulosos, em veludo azul, com o logo da Chanel e umas seringas-design, provavelmente desenhadas pelo Jean-Paul Gaultier. Olha que…!

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4 comentários a “Nova lei do tabaco”

  1. pachita says:

    Confesso-me pateta (consciente de que é pateta), mas concordo com as medidas.

    Beijinhos para os três :)

  2. brites says:

    Fiz um comentário no fórum da COPPT(www.coppt.pt) precisamente acerca da infeliz intervenção do deputado Helder Amaral. O senhor compara o incomparável. As multas sobre os fumadores de cigarros não são sobre o consumo (como no caso da cocaí­na) mas sobre o consumo em locais onde isso não for permitido. Na rua não serão multados.
    Parece-me que o tabaco, para além da nuvem de fumo que turva o ambiente também faz o mesmo ao discernimento. Eu quero acreditar que os nossos polí­ticos são mais inteligentes que o que as suas afirmações fazem crer que são…

  3. artur says:

    É conhecida a nossa divergência quanto a esta questão do tabaco. Ora aqui vai uma longa citação de um artigo de João Pereira Coutinho, publicado no Expresso de sábado passado:
    “Em 1959, o filósofo Isaiah Berlin publicou um ensaio que se transformou em peça clássica do pensamento polí­tico. Intitula-se “Two Concepts of Liberty” e, para resumir uma longa conversa, Berlin escrevia que, historicamente falando, é possí­vel divisar dois conceitos de liberdade que, semelhantes na aparência, acabam por evoluir em sentido contrário. De um lado, o conceito de liberdade ‘negativa’, caro aos liberas clássicos (como Stuart Mill), e que procura definir o espaço onde eu posso agir sem a coação de terceiros. Do outro, o conceito de liberdade ‘positiva’, onde a precoupação já não está no espaço do agente, mas na acção do agente: uma acção considerada livre se for racional.”
    Ora, tu consideras pateta fumar – logo, estás de acordo que o Estado imponha proibições a quem fuma.
    No entanto, consideras que não faz sentido, por exemplo, punir sacar coisas da internet porque também achas pateta a história dos direitos de autor.
    Quer dizer: o conceito de liberdade modifica-se, para ti, consoante a acção.
    Continua JPCoutinho: “um dos exemplos mais explí­citos do abuso está, naturalmente, no combate ao tabaco (…) E não é por acaso que a Alemanha nazi – um regime totaltário e ateu – se notabilizou nas campanhas anti-tabágicas, que sobreviveram ao Reich e são hoje repetidas por papagaios sem vergonha. Mas o combate aos fumadores, e as medidas iliberais que o Parlamento aprovou sem um espirro de hesitação, é também a forma mais velha de negar aos seres humanos o que é autenticamente deles: a possibilidade de viverem por sua conta e risco, assumindo as rédeas da sua própria mortalidade”.
    Por mim, repito o que já digo há muito tempo: o facto de ser o Estado a decidir o que faz bem ou mal í  minha saúde, é muito perigoso.
    Não se pode, depois, pedir que o Estado não se meta nas nossas vidas privadas.
    É isto que está em jogo com as leis proibicionistas (do álcool, do tabaco, dos bons costumes, da sexualidade ‘normal’, etc, etc).

  4. brites says:

    Outros exemplos infelizes… Um deputado do PSD, ? Martins, disse que a lei não seria eficaz sem um consenso. Se ele está í  espera que só haja leis consensuais, é melhor emigrar… E cerca de 80% dos portugueses concordam com a lei. Será preciso que 100% dos portugueses concorde em tudo para legislar alguma coisa?! Também do PSD vem o brilhante argumento da «tónica na prevenção». Que não é a proibir mas a prevenir que as coisas mudam. E então, os fumadores passivos deste paí­s ficarão ansiosamente í  espera que todos os fumadores deixem de fumar graças í s boas práticas preventivas. Prevenção sim mas com restrição.
    Maria de Belém afirmou que a lei não poderia ser tão restritiva como noutros paí­ses europeus por causa «das nossas idiossincrasias». Nem sei que diga… Mas estou cansada de tanto não-argumento.

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