Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Coloquei um post sobre a nova lei do tabaco, já de flak jacket e capacete, porque já sei como é. O meu pai, que é um fumador a sério (e não uma dessas bichas de cigarro a queimar na ponta dos dedos só para compor a pose), respondeu-me.
Logo aí, a coisa complica-se, porque o meu pai é um fumador exemplar: não o vejo fumarum cigarro há meses, porque não fuma ao pé de mim, porque sou asmático e/ou porque não gosto, não o vejo fumar nos restaurantes, nunca o vi sequer pensar em fumar ao pé do neto.
E o meu pai tem 54 anos e não é especialmente pateta a fumar – fuma e pronto. Mesmo assim, mantenho que fumar é pateta, assim como usar o boné com a pala para trás, ou os óculos escuros pendurados pelas hastes no pescoço. É um gesto que me parece pateta, que hei-de eu fazer?
Aqui vai o comentário e os meus pensamentos sobre o assunto:
“É conhecida a nossa divergência quanto a esta questão do tabaco. Ora aqui vai uma longa citação de um artigo de João Pereira Coutinho, publicado no Expresso de sábado passado:
“Em 1959, o filósofo Isaiah Berlin publicou um ensaio que se transformou em peça clássica do pensamento político. Intitula-se “Two Concepts of Liberty”
E pronto: liberdade. Não se pode falar de tabaco sem falar de liberdade. A liberdade… de quem fuma. Sempre a liberdade de quem fuma, nunca a de quem não fuma. O meu pai, que é uma pessoa invulgar (o oposto de vulgar), preocupa-se de facto com a liberdade de quem não fuma. Mas ele está tão sozinho que nem conta e é por isso que eu continuo a escrever textos sobre fumo e fumadores.
e, para resumir uma longa conversa, Berlin escrevia que, historicamente falando, é possível divisar dois conceitos de liberdade que, semelhantes na aparência, acabam por evoluir em sentido contrário. De um lado, o conceito de liberdade ‘negativa’, caro aos liberas clássicos (como Stuart Mill), e que procura definir o espaço onde eu posso agir sem a coação de terceiros. Do outro, o conceito de liberdade ‘positiva’, onde a precoupação já não está no espaço do agente, mas na acção do agente: uma acção considerada livre se for racional.”
Ora, tu consideras pateta fumar – logo, estás de acordo que o Estado imponha proibições a quem fuma.
Não é assim. Eu considero pateta fumar. Ponto. Essa percepção (que é recente), nada tem a ver com a minha posição em relação ao fumo ou sequer í lei anti-tabaco.
Mesmo que fosse completamente indiferente a quem fuma e onde, continuaria a achar o gesto de fumar, uma patetice. Como vestir coletes fluorescentes nos bancos dos carros ou usar bolsas de cintura ao pescoço.
Eu não estou de acordo com a acção do Estado neste caso. Eu acho que as coisas deviam ser auto-reguladas. Sinceramente, acho mesmo. E sou completamente a favor da despenalização da sociedade até ao limite do razoável (homicídio, por exemplo, parece-me pouco razoável que seja despenalizado). Também sei que o que é razoável é discutível.
Mas se há coisa que aprendi com o meu pai é: “este povo não presta”. E se me perguntares: então mas não estas contente que a lei tenha passado. Eu respondo: sim! muito! aleluia!
No entanto, consideras que não faz sentido, por exemplo, punir sacar coisas da internet porque também achas pateta a história dos direitos de autor.
Mais ou menos. Não acho pateta os direitos de autor, mas acho pateta as restrições impostas sobre os consumidores para os defender (aos direitos de autor). Uma coisa é ser ilegal copiares um disco para o venderes, outra coisa é não conseguires sequer tocar um disco que compraste, porque o teu leitor de discos não é do fabricante amigo da editora de música.
Mas essa é outra conversa, claro.
Quer dizer: o conceito de liberdade modifica-se, para ti, consoante a acção.
Errado. O meu conceito de liberdade mantém-se: a liberdade de eu estar, ser e agir como quero. E essa liberdade inclui ouvir a música que me apetece e inclui não fumar. Por um lado, alguém vai ter que inventar alguma forma de me fazer pagar pela música e por outro, alguém vai ter que apagar um cigarro.
Mas o que a indústria discográfica e os fumadores partilham, esses dois grupos de fachos sem vergonha, é a velha máxima “estás mal, muda-te”. Não consegues tocar os nossos discos protegidos? Compra o nosso novo leitor. Não gostas de fumo? Vai-te embora.
Continua JPCoutinho: “um dos exemplos mais explícitos do abuso está, naturalmente, no combate ao tabaco (…)
“Naturalmente”, para o JP Coutinho que, sou quase capaz de apostar, é fumador. Ou será apenas um grande defensor da liberdade?
E não é por acaso que a Alemanha nazi – um regime totaltário e ateu – se notabilizou nas campanhas anti-tabágicas, que sobreviveram ao Reich e são hoje repetidas por papagaios sem vergonha.
Xiça! Já vamos nos Nazis! Lá está o espírito de Fumador Revolucionário Oprimido de que o J.P. Coutinho, obviamente, sofre. Os não fumadores são Nazis e infiltram-se nas mais altas esferas do Estado, para fazer passar leis opressivas, anti-tabaco.
Lérias.
Tou-me bem cagando para se os Nazis eram anti-tabaco, porque eles acima de tudo eram uns hipócritas de merda. Odiavam judeus, mas depois tinham a Joy Division e tinham relações sexuais em barda com judias. Afinal, já não eram assim tão impuras que não merecessem um pouco de bockwurst germânica.
Mas o combate aos fumadores, e as medidas iliberais que o Parlamento aprovou sem um espirro de hesitação, é também a forma mais velha de negar aos seres humanos o que é autenticamente deles: a possibilidade de viverem por sua conta e risco, assumindo as rédeas da sua própria mortalidade”.
É sim, senhor, ou como diz o meu amigo Gustavo: não devia ser obrigatório o uso de cinto de segurança, porque se tu quiseres arriscar-te a morrer num embate a 50 km/h, tens todo o direito. É por isso que acho que o Estado não deve proibir nada: nem o álcool, nem o tabaco, nem as drogas e aliás, até devia ser possível entrar numa farmácia e comprar qualquer medicamento, sem receita médica. Olha que porra, se eu quiser tomar um medicamento, porque é que tenho que ter um papelinho passado por um especialista qualquer na matéria?
Continuo a insistir, porém: eu não gosto de fumo de cigarros, menos ainda de charutos e cachimbos e gostava muito de nunca mais, em toda a minha vida, os ter que inalar.
E não é só fumo: maus cheiros, por exemplo. Mas o que se pode fazer? Instituir uma lei do duche obrigatório? Olha… se calhar era preciso, tendo em conta a quantidade de pessoas, inteligentes, cultas, educadas e profissionais com que me cruzo diariamente e que cheiram a suor retoiçado de cinco dias.
O Estado deve obrigá-las a tomar banho? Não.
Eu ficaria feliz se eles fossem obrigados a tomar banho? Sim.
Eu não me sinto mal por ter estas ideias contraditórias? Não.
Por mim, repito o que já digo há muito tempo: o facto de ser o Estado a decidir o que faz bem ou mal í minha saúde, é muito perigoso.
Não se pode, depois, pedir que o Estado não se meta nas nossas vidas privadas.
É isto que está em jogo com as leis proibicionistas (do álcool, do tabaco, dos bons costumes, da sexualidade ‘normal’, etc, etc).
Estamos, afinal, de acordo. Mas eu continuo a achar que:
[tags]tabaco,fumadores,não-fumadores[/tags]
Sobre o tabaco não comento, por questões “deontológicas” (e não, não sou fumador), não deixa de ser nteressante a analogia do cinto de segurança e o conceito de liberdade.
Sempre ténue a linha entre uma imposição do Estado (com a melhor das intenções) e a liberdade de uma decisão por conta e risco que não afectará terceiros… ok, salvo num embate frontal se ele sair projectado… ;)
Abraço,
Se sair projectado e acertar em alguém :-)
Quanto ao duelo, aceito… mas só se levares a beatinha acesa, ao canto da boca, como qualquer cowboy cool faria…
Este argumento dos nazis costuma ser invocado em desfavor da lei. É uma trapaça de argumento. Pode-se assim argumentar contra o que se quiser desde que se saiba que já houve (ou há) algum ditador sanguinário que tenha defendido essa ideia.
Garantir que os fumadores continuem a fumar o que lhes apetecer desde que os não-fumadores não fumem o que nunca lhes apeteceu? É má ideia… os nazis eram anti-tabaco…
Ah… e JP Coutinho é um colunista de Direita… e a comparação com os nazis não tem nada a ver com esquerda-direita, mas sim com isso tudo que escreves: matam-se judeus e vai-se com judias para a cama. A hipocrisia semelhante ao actual Estado controlador, cujo expoente máximo é o Bush e a sua América do Bible Belt.
Tudo isto é muito mais complicado do que o simples gesto (pateta) de acender um cigarro…
Acho que se os cigarros não deitassem fumo, a coisa era muito mais simples. Isso sim, seria uma invenção milionária: o cigarro completamente individual.
Só para referir que é mais um caso que demonstra a validade da Lei de Godwin. :)
http://en.wikipedia.org/wiki/Godwin's_Law
:)
O Estado não tem direito de proibir ninguém de fumar. Mas tem obrigação de proibir o fumo em sítios fechados. Porque ninguém tem direito de me obrigar a fumar! Já que os fumadores (com honrosas excepções, que conheço poucas) não usam o livre arbítrio que tanto advogam para deixar de fumar por sua iniciativa em locais fechados. Não vejo onde está a hipocrisia.
Eu tenho direito a gostar da adrenalina de conduzir sob o inebriante efeito do álcool a 200km/h. Mas o Estado tem obrigação de me impedir essa estupidez. Não porque o Estado goste de se armar em aborrecido desmancha-prazeres mas porque não tenho direito de prejudicar quem usa a mesma estrada.
Os fumadores têm direito a gostar de mandar umas passas e sentir o inebriante efeito do fumo. Mas o Estado tem obrigação de proibir essa… palermice. Não porque o Estado goste de se armar em aborrecido desmancha-prazeres mas porque nenhum fumador tem direito de prejudicar o seu colega de trabalho ou cliente de um mesmo restaurante ou o filho que o acompanha ao lanche.
É essa a chatice: o cigarro não é individual, como as estradas também não são.
Gostei da Lei de Godwin, que não conhecia, mas que me parece válida e, pelo menos, divertida.
Sim, o estado a impor regras a mais mexe-me com a pinha também.
Na verdade, e estando do lado desta lei, eu preferia que a lei fosse um pouco mais directa. Em vez de proibir o fumar em espaços públicos, proibisse o fumar no raio de acção de qualquer pessoa que não dê autorização para isso. Note-se que este raio de acção seria também temporal e não só nas primeiras 3 dimensões (irrita-me ir a um wc público e apanhar fumo de alguém que lá esteve).
Como iríamos estar atolados em discussões sobre o que poderia ser considerado um “raio de acção” (durante o qual muitos iriam aproveitar para fumar ao pé de mim), cedo ao imperativo pragmático e … que se proíba fumar em espaços públicos.
Mas preferia um pouco mais de liberdade no direito ao tomar riscos que um cidadão tem. Como tinha dito ao Pedro, não falta muito para ser necessário um atestado médico para se poder comprar bacon…
Já existe uma espécie de cigarro sem fumo…. não consigo encontrar nenhum link.
No entanto, apresenta na mesma riscos para a saúde.
Se esse cigarro sem fumo apresenta riscos para a saúde não quero saber. Só corre os riscos quem o fumar e não os que estão í volta. A diferença é essa. Aí é que está o livre arbítrio: cada um corre os riscos que quiser. Quando faz com que os outros também corram riscos, acabou-se o livre arbítrio e começa a falta de respeito pela liberdade do outro.
Por favor: não nos tirem esse prazer! Cigarros sem fumo, cerveja sem álcool, café sem cafeína, doces sem açúcar, presunto sem sal – porquê?
Como dizia o outro (não me lembro quem foi, mas hei-de tentar saber): “eu fumo porque não acredito na imortalidade”. (seria o Vitor Hugo?)
brites: és livre de conduzir a 200Km/h em qualquer local privado (teu terreno, autodromo, etc) sem que o estado possa te impedir, mas assim que voltas para um local publico (auto-estrada, estrada nacional, etc) tens de te reger pelas regras.
Da mesma forma sou a favor que seja proibido fumar em qualquer local fechado – todos os locais publicos do estado (hospitais, etc), sem excepção, e qualquer local publico de entidades privadas que não tenha ventilação suficiente ou locais separados para fumadores e não fumadores. Acho correcto que o estado imponha essas regras, já que o povão não é “inteligente” o suficiente para respeitar as liberdades dos outros. PS: sou fumador.
Eu quando falo de cigarros sem fumo, é fumo para fora. Sem fumo para dentro, perdia a piada.
É como Coca-Cola light… what’s the point?
Então estamos de acordo, Bruno.
Eu acho estúpido o estado proibir o fumo nos locais fechados privados. Se há realmente tanta gente que se sente incomodada por ir a bares, cafés e restaurantes onde outros fumam, deve haver então mercado para que os próprios privados proibam de se fumar nos seus espaços. O mercado auto-regula-se. Acaba por se ter sítios para fumadorese sítios para não fumadores.
Já compreenderia por exemplo que o estado proibisse fumar de todo. Da mesma forma que obriga a usar o cinto de segurança. Porque é que o estado há-de ser obrigado a pagar por meio de todos nós, os tratamentos de quem se quer auto-destruir através do tabaco? Esse faria sentido.
Para quem não conhece, hão-de experimentar ir levantar qualquer coisa í Delegação Aduaneira das Encomendas Postais (Lisboa) na Av. Marechal Gomes da Costa, vulgo Alfândega. Se alguém já teve a experiência de entrar numa disco de manhã, após uma noite de funcionamento, vai conseguir imaginar o tipo de cheiro e ar pesado que está naquela sala de alfândega. Só falta mesmo o cheiro da cerveja derramada. É impressionante como a sala onde somos recebidos pelas duas senhoras, já de idade respeitável, está naquelas condições, para receber cidadãos que se deslocam lá para serem chulados… Das 3 vezes que lá fui só apanhei uma a fumar, mas aquela atmosfera não engana, todos os intervalos em que não está ninguém para ser atendido devem ser passados de cigarro aceso Lí DENTRO! Mas, isto é legal? Ou aceitável? Da última vez até estava com o estomago fraco e saí de lá bem agoniado. Na próxima vez que tenha de lá ir dou largas í minha indisposição e presenteio-lhes com o conteúdo do meu estomago. Até sou capaz de meter uns 2 galoes e 3 pasteis de nata para ajudar í festa. E umas gomas, para dar colorido. Já que elas vão ter que vestir o meu vomitado, que o façam com estilo.
Desculpem.
Apenas para avisar que não-fumador é ficção.
Pura e simplesmente não existe!
Um ex-fumador há muitos anos.
Não percebi o último comentário. “(…) não-fumador é ficção”? Elucidam-me!
Correcção: elucidem-me.
só conheço duas pessoas que dizem pateta tu e a Joana. :-D
qto aos cigarros e ao fumar, é pateta, sim. Mas a proibição tb é patetica pq exagerada. e hipocrita c a historia do estado paizinho se preocupar connosco e c a nossa saúde… e esta é uma discussão que nos levava mt longe, tipo a poluição faz pessimamente í saúde. e tal e tal… Bjs e parabéns plos 2 meses do Tiago
“Porque é que o estado há-de ser obrigado a pagar por meio de todos nós, os tratamentos de quem se quer auto-destruir através do tabaco? Esse faria sentido.”
O estado paga o quê? perdão? quem paga os meus tratamentos sou eu com a merda dos descontos que faço todos os meses. desconto para o hospital, pra policia, pra tudo. e ainda assim ainda sobra pra construir estradas e tal
ola amigos o tabaco nao presta vosses que nao fume
isto é um site sobre o tabaco ou é mais sobre as pessoas
Não, isto é só um site sobre macacos :)
ola gostei muito do seu site
obrigado.