Um pesadelo ikeano

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

O meu sonho de uma grande superfí­cie de seja o que for, é uma grande superfí­cie deserta.

Temos um projecto para algumas mudanças cá em casa, que inclui as obras que vão, eventualmente, começar em breve e alguns móveis novos. Nada de espectacular: umas estantes para a sala, um roupeiro para por no hall e mais um móvel qualquer indefinido que está í  espera do fim das obras para ser escolhido.

Como o Tiago já não demora muito a chegar e depois vai tornar-se mais complicado, decidimos que era hoje mesmo que í­amos ao Ikea comprar os móveis novos. Pensei eu que, sendo Sábado poderia estar muito cheio, mas como é dia 20 e o pessoal anda teso, o caos não seria tão grande e poderí­amos despachar-nos razoavelmente depressa.

Posso adiantar já que desde que saí­mos até que voltámos a casa, passaram cinco horas.

O Ikea estava em saldos e – não sei se apenas por isso, ou só porque sim – estava completamente cheio. Era praticamente impossí­vel circular na loja e no armazém, onde centenas de pessoas com cara de idiotas passeavam em passo lento, olhando í  volta, pesquisando não se sabe bem o quê, observando não se percebia bem quem. Demorámos bastante tempo no piso da exposição, mas queriamos ter a certeza que escolhiamos bem o que queriamos.

Depois de um bom bocado a pensar no assunto e a discutir as vantagens de cada um, acabámos por decidir-nos pelo risco: estantes pretas para a sala, em contraste com a mesa e cadeira brancas. Cool!

Mas, claro, as estantes pretas estavam esgotadas. Algo que só descobrimos quando chegámos ao armazém para as sacar da prateleira. Mais irritante ainda é a forma como o Ikea diz que algo está esgotado: “produto disponí­vel brevemente”. Ou seja: não há agora. Ou seja: esgotou.

Depois de tanto tempo a decidir trazer estantes pretas, acabámos a trazer estantes cor de faia, vulgares de Lineu. Porém, as extensões de altura das estantes estavam também esgotadas e portanto… chapéu.

Felizmente, o roupeiro estava disponí­vel em todas as suas pecinhas separadas e encontrámos também alguns dos outros objectos soltos de que precisávamos cá para casa. Mil euros mais tarde, deixámos os móveis pesados no serviço de entregas, o que me fez sentir ainda mais idiota: para que raio estou eu a optar por uma estante de faia, quando queria uma preta – que não havia – se depois me vão entregar isto a casa de qualquer maneira, porque eu não tenho nem meio de transporte adequado, nem paciência para me chatear com isso?

Para isso não seria mais prático terem simplesmente esperado pela chegada da estante que eu realmente queria e depois… terem-na vindo entregar cá a casa?

O Ikea pode ser muito barato e giro e fantástico, mas há certas coisas para que não tenho pachorra e me dão saudades de uma boa e velha loja de móveis.

É claro que nunca teria trazido três estantes com dois pares de portas de vidro cada uma e um roupeiro inteiro, também com portas de vidro, por mil euros – e mais uma data de cangalhada – por mil euros… não, provavelmente só o roupeiro teria sido mil euros, portanto parece-me que não me posso queixar muito.

Mas pelo menos eu gastei mil euros. A esmagadora maioria das pessoas que vi sair do Ikea, vinham com dois saquinhos de plástico com bibelots foleiros. E é por isso que aquilo está cheio: em cada 100 pessoas, 4 estão a comprar móveis e 96 estão a comprar argolas de guardanapos e um espremedor de citrinos.

E estes últimos 96 andam por lá a passear, lentamente, com a famí­lia toda atrás, a empatar a vida a toda a gente. E é assim em todas as ditas “grandes superfí­cies”.

Devia haver, nestas grandes lojas, um dia de compras. Tipo: “dia de compras a sério”. Um gajo só entrava se manifestasse a vontade de efectivamente comprar alguma coisa de jeito e í  saí­da, tinha que ter efectivamente o carrinho cheio, caso contrário, pagava 300 euros para não ser parvo.

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9 comentários a “Um pesadelo ikeano”

  1. Séries TV says:

    Ao menos tens uma Ikea, cá em cima nunca mais abre a loja

  2. a says:

    Se os portugueses tivessem de pagar 300€ por cada vez que são parvos morriam í  fome 9.5milhões :)

  3. Deve ser por isso que lhe chamamos “superfí­cie” – é o local ideal para uma passeata dominical.

    Cruzes, credo!

    Multa ou imposto sobre o “não-consumo”? Seria uma ideia revolucionária. Só não sei é se os magnatas do capitalismo estariam de acordo… talvez seja melhor não lhes darmos ideias…

  4. Domingo de manhã (entre as 10 e as 11) é a melhor hora para ir ao Ikea.

    O quarto do meu puto é (quase) todo Ikea, e eu só lá vou comprar coisas, quando verifico primeiro, online, a disponibilidade de stock. Até hoje, nunca falhou :)
    Aliás, da última vez que lá fui, eu já sabia que havia o que eu queria, e os meninos da loja ainda não tinham tido tempo para colocar a arca em exposição. Modernices.

  5. pachita says:

    Protesto veementemente!

    De vez em quando vou lá comprar argolas de guardanapo e espremedores de citrinos. Mas:

    1º É raro ir ao andar das exposições;
    2º Não vou com parentes do 6º grau, o periquito, o sobrinho da porteira e o cão da vizinha;
    3º Ligo o turbo e rodopio pelos corredores, chegando mesmo a sair da yellow brick road (oh, céus!, vai na volta vão pí´r radares a quem circule pelos outros corredores).

    Bom, resumindo e concluindo: vendo argolas de guardanapo e espremedores de citrinos a bom preço.

  6. Joana says:

    O Ikea só é consumivel í s 10 horas da manhã ou durante a novela da noite. A primeira vez que lá fui tive uma ataque de claustrofobia/pânico e queria fugir e não conseguia, tropeçava em milhares de pessoas. Até conseguir sair pareceu-me que passaram horas e claro não comprei nada.

    Agora vejo tudo no site se há ou não, escolho e tento ir nas horas mortas. Tento estar lá dentro o menos tempo possí­vel.

  7. paco says:

    Meu caro amigo, Ilustre I.,

    Tenho só coisas boas a dizer do IKEA. Não do povo que se arrasta pelos corredores. Famí­lias inteiras que lá vão para comprar um pires que se partiu.
    Nessa parte, estou contigo e podemos fundar um clube para exterminar essas pessoas.
    Também lá estive no Domingo e pensei: quem é que, no seu perfeito juí­zo, vai ao IKEA num Domingo de manhã comprar pires para chávenas ou lâmpadas de baixo consumo?

  8. Macaco says:

    Meu carí­ssimo e saudoso ADSS:

    Eu também gosto muito do Ikea. Gosto da exposição (a ideia de montar casas com x metros quadrados é gira), gosto da variedade, da modularidade, da simplicidade da mobí­lia e dos preços!

    Eu realmente gosto é pouco de multidões.

  9. Inês says:

    olá primo…como eu te entendo! a nossa sala está toda remodelada desde o Natal…e guess what?? toda IKEA claro! Desisti de lá ir í s horas normais…entrava ás 21:30h e ás 23H estava a por tudo no carrinho! Mesmo assim com uma fila de idiotas com velinhas e almofadas para pagar… fui eu que tirei tudo do armazém, que levei tudo para o carro e que transportei tudo para casa. Resumindo: NUNCA MAIS!! A coisa até é gira…montar tudo como vem nas instruções e tal…mas nunca mais me apanham numa destas! Multidões é mau…multidões de portugueses que demoram 3 horas a comprar artigos de 1,99euros é assustador!

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