Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Sou um designer.
Segundo aquele diploma com o pedaço de prata pesado, que me custou cinco anos a ganhar, sou um designer de comunicação.
Confesso que demorei alguns anos a habituar-me í ideia de dizer í s pessoas que sou designer e não me sentir um bocadinho cagão. Mas afinal o design não é nenhuma disciplina fashion, é uma coisa antiga, um método de resolver problemas que estava lá quando um gajo bastante mais peludo do que eu, um belo dia achou que a carroça andava melhor se tivesse qualquer coisa redonda por baixo.
Ser um designer de comunicação significa que tento ajudar algumas pessoas a resolver o problema de precisarem de comunicar com outras de forma a que a sua mensagem seja recebida, entendida e apreciada.
Para ser recebida tem que usar o meio correcto e seguir as regras do meio, para ser entendida tem que ser legível, inteligível e respeitar as regras de linguagem dos receptores e para ser apreciada tem que ser agradável e bonita.
Seguir regras e respeitar linguagens é mais ou menos fácil e fazer coisas bonitas é mais ou menos complicado, por causa da subjectividade. Isto pareceria óbvio, em princípio.
Mas nem sempre é assim. Às vezes, fazer coisas bonitas é infinitamente mais fácil do que fazer coisas funcionais. Há truques, há modas, há tendências que se podem seguir e fazer a grande maioria das pessoas dizer: “epá, que giro”.
Mas saber, só com o nosso instinto, que a coisa vai funcionar bem – isso sim, é difícil.
É evidente que podem fazer-se testes com utilizadores (que não é o mesmo que focus group testing, apesar do pessoal de gestão de produto confundir muito as duas coisas), mas mesmo antes de chegar a essa fase, não gosto de largar uma coisa sem estar convencido de que é o melhor que consigo fazer naquele momento.
Como somos seres tridimensionais, o tempo para nós é um vector e só sabemos o que sabemos no momento que conseguimos ver das nossas míseras três dimensões. Se fossemos tetradimensionais não usaríamos a frase “se eu soubesse o que sei hoje…”, mas claro, teríamos que ser pentadimensionais para compreender que apesar do tempo ser uma dimensão e não uma linha recta, não deixa de poder ser afectado.
Tudo isto para dizer que é verdade que num dado momento, posso estar convencido que algo vai funcionar e no momento seguinte aperceber-me (quer por raciocínio, quer por influência externa), que afinal não. Não funciona.
Estou a redesenhar quase completamente uma aplicação. A ideia era fazer melhorias e algumas mudanças cosméticas, mas, como sempre, entusiasmei-me e mexi em quase tudo – desde os layouts base até í forma de despoletar e representar visualmente as diversas funcionalidades.
O meu trabalho tem sido, sobretudo, pensar. Pensar e observar. Sei que estou a fazer o melhor que consigo neste ponto do tempo que consigo ver das minhas limitadas três dimensões. Por qualquer razão, hoje deu-me para pensar no processo e apercebi-me pela primeira vez na minha vida que gosto í brava do que estou a fazer.
E sei que estou a fazê-lo bem.
Ah! Mas afinal os designers também pensam!!?!
Nem calculas como gostei de ler este post!
Pelos vistos foste o único. Tenho que falar de futebol para despertar interesse…
É muito bom gostar do que fazemos a nível profissional. Descreveste muito bem qual é o papel do designer e nota-se que gostas mesmo do que fazes.
Designers ao poder. Belo post.