Conversas sobre Jesus Cristo e outra maquinaria industrial

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Há algum tempo atrás – não muito – interrogava-me porque seria que eu, ateu relativamente convicto, usava exclamações como “meu deus” e “ai jesus” ou “valha-me o cristo” ou a minha preferida: “jesus, maria, josé!”.

Pronto, esta última na verdade não uso muito, mas digam lá que não é uma exclamação fantástica.

Apercebi-me então que a cultura cristã, ou judaico-cristã, está de tal forma embebida no tecido da nossa sociedade (ou será o dito tecido que está embebido na tal cultura?), que me é impossí­vel não soltar um “meu deus”, ou mesmo um “oh deus!”, quando tenho um orgasmo.

Mais uma vez estou a mentir, mas queria mesmo usar a palavra “orgasmo”, neste artigo, porque acho que me dá um ar adulto e desinibido.

Bom, a minha conclusão do tal tecido embebido na tal substância cultural, não é propriamente original, nem algo em que não tivesse pensado antes, mas o que é facto é que me levou a concluir que a história de Jesus, o Cristo (porque Cristo não era apelido, era tí­tulo), se tornou uma lenda que quase toda a gente (senão mesmo, toda a gente), conhece.

Se não conhecem a história completa, conhecem pelo menos as notas da contra-capa: José e Maria uma noite param num pardieiro, nasce um menino sob uma estrela; vêm três reis magos trazer presentes (por isso é que temos prendas no Natal); depois de crescido, o menino é pendurado numa cruz, morre e depois ressuscita e vai para o céu porque era filho de deus.

Toda a gente sabe isto.

E o que me parece, é que toda a gente sabe isto porque a coisa se tornou, como eu dizia mais atrás, uma lenda.

Esta é a altura em que eu seria apedrejado por padres e beatas em fúria, apesar de estarem a ir contra um dos pecados mortais (raiva) e um dos dez mandamentos (não matarás). Mas a verdade é que a história de Jesus, o Cristo, com mais ou menos detalhe, começa a confundir-se um pouco com a do Rei Artur ou a de Robin Hood.

Senão vejamos: discute-se se Jesus existiu, também não é certo que o Rei Artur tenha sido um verdadeiro rei e ninguém acredita lá muito no Robin Hood. Todos tinham super-poderes: Jesus transformava água em vinho; o Rei Artur arrancou a espada da pedra e o Robin Hood acertava num mosquito a 3 km, apesar de ser vesgo. E todos eram bons e justos: Jesus pregava o amor ao próximo; o Rei Artur era, tipo… huh… fixe; e todos sabemos que o Robin Hood roubava aos ricos para dar aos pobres – operação que devia repetir no sentido inverso quando os ricos ficavam pobres e os pobres, por via do saque, ricos.

Concluí­ndo: acho que, retirando a obscura obsessão eclesiástica com o poder e eliminando a religiosidade exacerbada de toda a história, “as aventuras de Jesus, o Cristo”, poderia ser um grande êxito juvenil, sendo também uma agradável leitura para adultos.

Tendo em conta que tanta gente lê o Harry Potter, não me custa nada a acreditar.

Acho portanto, que está na altura de escrever um livro que relate a vida de Jesus, o Cristo, sem religião! Será um grande desafio: punha-se um ateu a re-escrever os novos testamentos.

O ponto de partida é que Jesus, o Cristo, era um gajo cheio de ideias, que acabou lixado por um amigo que se vendeu para pagar uma dí­vida de jogo. Seria preciso contar toda a história, mas retirando todas as referências a deus, milagres e truques de ilusionismo duvidoso: nada de falar com os peixes, nada de transformar pedras em pão e sobretudo, nada de ressuscitar os mortos.

No final, verí­amos se ainda achavam assim tanta piada a esse fulano…

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14 comentários a “Conversas sobre Jesus Cristo e outra maquinaria industrial”

  1. gnü says:

    No final, é possí­vel que o fulano tivesse mais piada ainda… mas isso é a minha satânica opinão.

  2. Elso Lago says:

    Eu até concordo. O grande problema destes tempos que correm, é que o producto que mais vende é aquele que mente mais. Se nos pões um Jesus todo porreiraço, que anda atrás da Madalena como nós das nossas mulheres e que, ainda por cima, não tire coelhos da cartola, arriscas um prémio literário estrangeiro qualquer e a imigração para um ilha espanhola qualquer. E o ódio geral… claro!

  3. tony says:

    Macaco, conheces um documentário intitulado “The God Who Wasn’t There”? Hmmmm, se puderes dá uma vista de olhos em http://www.thegodmovie.com/. Acho que vais gostar de ver… eu achei piada!

  4. suskind says:

    Eu não digo essas palavras.

    E é uma coisa que critico nos padres e beatas. Há um mandamento qualquer que é “não usar o nome de deus em vão” mas eles fartam-se de usar “deus queira que…” (por exemplo). Ou então de se fartarem de ganhar dinheiro com imagens de santos.

  5. Bom, sendo eu cristão, sou um bocado suspeito naquilo que digo. Mas negar o facto histórico de que Jesus existiu é no mí­nimo um bocado rebuscado.

    Eu compreendo quando algumas pessoas dizem que ele não era Deus, nem especial, nem nada disso. É algo debatí­vel, mas pronto.

    Agora, dizer que não existiu? Como se explica a existência da igreja cristã, que surgiu no meio da perseguição romana? O pessoal morria por alguém que nunca existiu? Como iam convencer as pessoas, que viveram no mesmo tempo que Jesus, de que ele existiu?

  6. Macaco says:

    Nuno, é como é: uns aceitam, uns questionam, outros negam tudo.

    Se tudo é possí­vel, então o contrário também deve ser verdade: tudo é impossí­vel.

    Eu nem consigo provar que eu existo, quanto mais Jesus.

  7. Bom, por essa linha de pensamento, tudo bem :)

  8. Wilson says:

    Bem, a estória tá aí­ , acreditem se quiserem!

  9. lele says:

    opá, justino mártir é que tinha razao: o diabo existe, logo o gajo meteu-se a imitar jesus antes de para cá ele vir e com isso criou a poesia de Homero, a filosofia de Pitágoras, de Sócrates e de Platao e quem sabe até deve der ter dado aulas de geometria e matemáticas aos egí­pcios para que eles soubessem construir uma pirâmide. entao,isto nao é o pensamento mais lógico do mundo…
    mas melhor mesmo é o nosso amigo tertuliano que lá diz que mais vale a pena ser pobre de espí­rito do que um sábio perverso, que a ressurreicao de cristo é impossí­vel (e por isso mesmo é que ele acredita nela), e nao sei bem porquê, mas este nosso amigo nunca foi canonizado como os seus colegas ireneu, mártir e eusébio.

  10. Manuela says:

    Não consegues provar que existes??
    Hum… isso é o mí­nimo estranho…

  11. jose says:

    Muito boa a sua proza, realistica. Na verdade voce conseguiu, mesmo sem querer falar a respeito de Cristo – O Jesus ( porque Cristo agora nao e titulo, mas nome e o nome agora e titulo), defendendo-o, isto e apologetica, quando diz que poderia ser apedrejado por padres e beatas, ao invez de compreendido e amado como faria o Cristo – O Jesus (porque muitos sao jesus, mas nao o Cristo). Ele , se carnalmente estivesse ainda na terra, talvez te convidasse a caminhar um pouco com ele. E saiba que os maiores cristaos foram os ceticos, ateus. E saiba mesmo agora Ele, o Cristo de convida a reescrever o evangelho. Mas para reescreve-lo e preciso le-lo, e depois de le-lo cumprir maxima ordenanca de Jesus – O Cristo, Va, ensine a todo povo, e batize em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo. Um abraco, de Jose – o Luiz.

  12. Macaco says:

    José, não compreendi praticamente nada do que escreveste, mas: ya man!

  13. viriato says:

    José, o problema é que tu de facto não existes… pois ainda não nascestes …(João 3)

    http://religiao-filosofia.blogspot.com/

  14. viriato says:

    Macaco (não José), o problema é que tu de facto não existes… pois ainda não nascestes …(João 3)

    http://religiao-filosofia.blogspot.com/

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