Súmulas e previsões
Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Acabou o ano. Não é propriamente uma brilhante dedução, eu sei, mas de qualquer forma, nunca é demais estabelecer um contexto, para os mais distraídos.
Quando penso em 2005, sinto-me tentado a classifica-lo como o pior da minha vida. Não seria difícil compreender porquê, mas acontece que, como sempre, a vida – essa já declarada puta – é mais complicada que isso.
É que 2005 foi um ano demasiado complexo para ser etiquetado de “mau” ou “o pior”. Nos primeiros dias de 2005 soube que ia ser pai e a sensação foi estupenda. E aí é que está a complexidade.
Durante nove meses senti-me cada vez mais feliz e excitado com a ideia. Senti uma antecipação como nunca antes na vida e preparei-me o mais que podia para uma mudança radical na minha vida.
Afinal, o que veio foi algo de radical, sim, mas a crueldade aliada ao inesperado atingiram-me como um bulldozer. Foi como estar completamente preparado para receber um soco na cara e afinal apanhar um no estí´mago.
Passar o Natal e o ano novo sem o Alex foi penoso e pensar no novo ano é inevitavelmente difícil. Nada disto me parece um grande mistério insondável: é mesmo assim. Outra coisa não esperaria. Acredito que aquilo que separa as pessoas que conseguem lidar com a morte de um filho das que não conseguem é a capacidade de continuar a funcionar apesar do acontecimento e não a capacidade de esconder os seus sentimentos e preocupações dos outros.
Infelizmente, muitas vezes os outros têm dificuldade em lidar com o nosso comportamento. Infelizmente, não há nada que possamos fazer: não vou trair aquilo que sinto para ter um comportamento mais socialmente aceitável. E acho que, mesmo assim, não me tenho portado nada mal.
É assim que entro em 2006: não gosto de dar assim muita importância a resoluções de ano novo. Sei que são mentiras que contamos a nós próprios para darmos corda ao nosso motor e conseguirmos viver mais uns meses bem integradinhos. Compreendo que façam falta, mas cada vez mais acredito que a vida tem que ser vivida em tudo o que fazemos, todos os dias e não apenas nos primeiros dias de um novo ano, com base numa qualquer lista mental de boas acções insípidas.
Em 2006 só quero uma coisa: um bebé.
Mas nem isso me parece que vá ter. Talvez em 2007, pelas contas actuais. Portanto, não vale a pena estar a dizer que vou fazer mais (algum?), exercício, comer melhor ou gastar menos dinheiro em DVDs e BD. Não é preciso um ano novo para fazer nada disso, aliás, não é sequer preciso um mês novo, nem tão pouco uma semana: para fazer, podemos começar a fazer agora mesmo.
Portanto toca a levantar esse cú da cadeira!