Da imbecilidade.

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Estive entre fazer e não fazer isto, mas desta vez decidi mesmo fazer. De entre os diversos comentários que recebo neste site, uma fatia são tão imbecis que nem os publico. Recentemente apaguei um que perguntava se, a minha mulher chamando-se Dalila, eu era o Sansão, piada originalí­ssima e que eu, em quase 17 anos de namoro com a Dalila nunca tinha ouvido antes.

Geralmente apago os comentários mais palermas para poupar os seus autores a vergonhas futuras. Imaginem-nos, já crescidos (porque estes comentários só podem ser de crianças), a encontrar na net algo que escreveram anos antes, envergonhadí­ssimos com tamanha falta de inteligência.

Mas desta vez não resisti, publiquei um comentário imbecil. Não é nada de excepcionalmente grave, mas acho que merece uma análise. Foi a respeito do meu post sobre o Chuck Norris (que faz fósforos a partir de carvalhos, usando apenas a unha do dedo mindinho), e reza assim:

“Epa so malucos é que escrevem aki. eu tanho mto pena d voces pk n fazem nd na vida.

Vao ao medico urgentemente tratar dessa estupides e malukise aguda.
Um concelho de um amigo normal.”

Ora vejamos… Primeira palavra, primeiro erro: “Epá”, como sabemos, tem um acento agudo no “a”. Poderia ainda aconselhar uma ví­rgula, ou, até mesmo, um ponto de exclamação após esta saudação inicial.

Segue-se a segunda palavra e o segundo erro: “só” leva, também, acento agudo. Mas não é grave… afinal, são apenas acentos e, por isso, perfeitamente dispensáveis.

Termina, a primeira frase, com a palavra “aqui”, contraí­da para a forma “aki”, tão popular entre os jovens que não sabem escrever, no nosso paí­s, e resolvem esconder esse facto dizendo que “é mesmo assim” e que agora se escreve dessa forma por causa da limitação de caracteres permitidos num SMS.

Pergunto então, se a palavra se escreve “aqui”, porque não reduzi-la para “aqi”? É óbvio porquê: a letra “k” é “muito mais fixe”. Eu sei, porque também já fui adolescente.

Depois de um ponto final bem aplicado, a segunda frase começa com minúscula, o que também é um erro de ortografia, como sabemos; mas esta segunda frase é mais do que isso:

“Eu”, devia ser com maiúscula, como referi; “tanho”, suponho que seja uma tentativa de escrever a forma presente do verbo “ter”, portanto “tenho”; “mto”, que é uma contracção da palavra “muito”, quando no fundo deveria ser “muita”, portanto, “mta”; “vocês” está coxo de um acento circunflexo no “e”; “pk”, deveria, na verdade ser “pq”, a forma usual de contrair a palavra “porque”.

Mas além da ortografia esta frase tem outro engano: quem não faz nada na vida é, certamente, o pueril autor destas palavras. Andará, eventualmente, na escola secundária, a sugar o tutano aos pais, enquanto vai chumbando a português. Quando a mim, trabalho 9 a 12 horas por dia, todos os dias (geralmente, mas não sempre, exceptuando fins de semana), ao que posso adicionar cerca de 2 horas de deslocação diária em transportes públicos. Não me parece que se possa chamar a isso “nada”.

O comentário tem um segundo parágrafo e, não comentando a falta de acentos que já nem faz mossa, chegamos a uma das palavras mais importantes do texto: “estupides”. É aqui que, este peso-morto da sociedade moderna decide chamar-me estúpido, bem como, desconfio, aos restantes comentadores deste humilde site.

E é com a palavra “estupides”, que decide fazê-lo. Chama-se a isto, ironia.

A ironia continua na palavra “malukise”, em que, mesmo que quisessemos aceitar a forma débil-mental de escrever com “k” em vez de “qu”, seria necessário que, pelo menos se escrevesse “malukice”, já que a palavra não se escreve com “s”.

Quando ao “concelho” que nos é dado: ficamos sem saber qual é: Sintra? Viseu? Beja? Ou… seria um “conselho”? Sim, talvez fosse esse o objectivo deste nosso auto-entitulado “amigo normal”.

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22 comentários a “Da imbecilidade.”

  1. O que o amigo normal tem é inbeja, é só inbeja, de não sabere fazere fósfuros a partire de carvalhus com a unha do dedo mindinho. Se calhar tem de a deixar crescere.

  2. Bruno says:

    Pedro,
    Acutilante, como sempre.
    Infelizmente, aturar estes ignorantes – e o “ruí­do” que geram – é o preço a pagar por ter um site público. No entanto, penso que ter a satisfação de saber que alguns de nós estimam as palavras que escreves sobre ti e alguns assuntos que te (nos) interessam, compensa este pequena caudal de imbecilidade.
    Um pouco de paciência para as “malukices”! :-)

    Abraço,
    B.

  3. Elso Lago says:

    Diga-se, simplesmente, que esse teria ganho mais se estivesse quieto e calado. Deveria ser criada uma lei de confiscação de teclados í s pessoas que escrevessem dessa forma!

  4. babinha says:

    AH!AH!AH!AH!AH! ( isto sou eu a rir)…..

  5. pachita says:

    Depois de tudo o que gatafunhou, o mais hilariante foi ter assinado ‘amigo normal’. Normal? Aonde? :D

  6. catarina says:

    Eu também quero ser normal!! Talvez seja melhor ir tentando: Mi taben kerer cer normale pá.

  7. Paco says:

    O amigo normal devia ser sovado e obrigado a escrever, um número de vezes a determinar, as palvaras correctas.
    Logo a seguir, devia ser obrigado a ler o prontuário da lingua portuguesa, editado pela academia de letras para perceber que se pode escrever bué, mas não se pode substituir os quês pelos kapas.
    Em alternativa, poderia ser obrigado a assistir , em compacto, os programas da Edite Estrela, todos os dias, das 23h í s 04h que é para não andar aí­ a pintar paredes e blogs com ofensa í  lingua portuguesa e í  nossa inteligência.

  8. Raquel Henry says:

    Ele estava a pedi-las!!!Eh, eh!!!!

  9. alguem says:

    Bem, perante tamanho facto , não existe argumento possivel. Acredito que será apenas uma visão da nossa juventude destes tempos ( claro que não me considero velha, mas para la caminho ahahah). É de certa forma reconfortante ( estou a ser ciní­ca) ver que será esta juventude que um dia mais tarde irá governar o que pouco irá sobreviver destes, actuais, governos.

  10. Ahedonia says:

    HILARIANTE! O que eu me ri… obrigado por partilhares esta pérola! Estas coisas servem para elevar o ego nas alturas em que me sinto estupido. Lembro-me que existem indiví­duos assim, em ambundância, e rapidamente fico com um sorriso nos lábios.

  11. rita says:

    ai, como este teu post me trouxe um sorriso maquiavélico í  cara. viva a ditadura dos comentários dependentes de aprovação. instalei o novo movable type para o blog e agora com esse device contra a estupidez vou ter menos problemas do que tinha. vai ser uma marcianocracia ainda mais severa :) de qualquer maneira, obrigado pela risota que me provocaste com este post!

  12. tony says:

    Macaco: foi um verdadeiro trabalho de CSI sobre o post! Dissecado ao pormenor! Tiveste que apontar a luzinha azul?…

  13. Macaco says:

    Uso SEMPRE a luzinha azul! É, aliás, a única maneira de conseguir ir í  casa de banho a meio da noite.

  14. Então e a luzinha azul não deu para encontrar um vestí­gio de sémen do “amigo normal”, para o identificar e punir? ;)

  15. Macaco says:

    Mah, as crianças não ejaculam.

  16. Dalila says:

    Fantástico!
    Não sendo por mal gostaria só de deixar um reparo:

    Quando a mim, trabalho 9 a 12 horas por dia, todos os dias (geralmente, mas não sempre, exceptuando fins de semana), ao que posso adicionar cerca de 2 horas de deslocação diária em transportes públicos.

    “Geralmente, mas não sempre, exceptuando” não me parece a melhor construção (não digo que esteja errado, acho só que não é a melhor solução)…e não devia ser “Quanto a mim?”

    Ah! Sou outra Dalila que também sofre do tal mal da piada do Sansão! Cansa um bocado, é verdade.
    Enfim, imbecilidades=)

  17. Maria says:

    … E, pela primeirí­ssima vez, senti um orgulho tremendo em não pertencer í  classe normal (ou normalizada?) a que pertence esse energúmeno… Que bom que é viver nesta minha loucura de português certinho e acentos bem colocados no sí­tio devido!

    Viva a anormalidade de quem nunca aprendeu o abecedário com K, W e Y!

  18. Macaco says:

    Dalila: devia ser quanto a mim, sim, é o que se chama uma gralha e não uma alarvidade :)

    A outra frase talvez esteja um bocado confusa, sim, logo se vê.

  19. Jbispo says:

    Lembro-me bem do teu humor… uma verdadeira pérola.
    Ao ler o teu post, recordei-me (ainda achei mais piada) de uma cena da Vida de Brian; aquela em que o John Cleese, em traje de Centurião, apanha um cristão a pintar frases, carregadinhas de erros, de ordem contra os romanos e o obriga a escrever-tudo-certinho-não-sei-quantas-vezes-í -volta-da-praça.
    Abraços

  20. Michel says:

    Epa tem acento no a? No a? Não é “êpa” (e nesse caso não tem acento nenhum)? Bem, o Houaiss nem considera isso uma palavra… Epa, acho que o dicionário está errado.

  21. nes says:

    É uma tristeza o comentário desse imbecilóide… mas a verdade é que não me ria assim há muito tempo! Que poder de humilhação fantástico! Depois desta, esse ANORMAL vai pensar duas vezes antes de escrever seja o que for com KAPA. Primo és um orgulho! E é tão bom fazer parte desta famí­lia de malucos que não faz nenhum da vida… um beijo para ti e para a Dee

  22. Matilde says:

    Boa tarde,

    Parece, de facto, que finalmente alguém se insurge contra estes novos idiotas, que têm o mau hábito de se tornar cada vez mais evidentes e incomodativos.
    Os meus parabéns!
    Keep up the good work:)

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