Doomed

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Há cerca de 12 anos atrás, joguei um jogo absolutamente fantástico de uma assentada só. Depois de sete ou oito (ou mais?), horas a jogar sem parar, saí­ para passear o cão e senti-me tonto e um pouco fora da realidade… ao fim de cinco minutos na rua estava mal disposto.

O jogo chamava-se Doom e era a nova produção da id Software, a empresa que nos dizia “get psyched” antes de cada novo ní­vel do pioneiro Wolfenstein 3D. O jogo passava-se em Phobos e Deimos, numa base de pesquisa onde algo tinha corrido mal com experiências envolvendo teletransporte.

Em resumo, os cientistas tinham aberto um portal para o inferno e as mais variadas criaturas monstruosas populavam agora a base da United Aerospace Corporation, ombro a ombro com os zombies dos ex-guardas de segurança. O ano era 1993 e depois de jogar e re-jogar o Doom e, mais tarde, Doom II: Hell on Earth, comecei a ter cada vez mais convicção que os jogos podiam dar um excelente filme de ficção cientí­fica.

Doze anos depois, estreou nos cinemas o filme “Doom”. Não graças a mim, mas muito provavelmente, graças a muitas pessoas como eu no mundo inteiro que se tornaram fans incondicionais, não só de Doom, como da id software que, lado a lado com a Valve, continua a ser a melhor produtora de first person shooters do mercado, com a vantagem de ter introduzido o género.

Fui ver o filme.

Esse foi o meu primeiro erro.

O filme não é mau… é péssimo. Tirando a (curtí­ssima), sequência passada na primeira pessoa, que é original e transporta algum do sabor do jogo para o cinema, quase nada se aproveita.

Spoilers ahead.

O filme é baseado na série Doom, mais especificamente no último e absolutamente fantástico jogo da série: Doom III, mas ninguém diria… Uma das caracterí­sticas do jogo que qualquer pessoa nota imediatamente é a solidão do marine que tem que percorrer dezenas, senão centenas, de salas e corredores, em busca da vitória final sem qualquer ajuda. No filme, os produtores optaram por uma equipa de marines. OK… não digo que não seja um ponto discutivel… para o filme, um só personagem arrastando-se por corredores infinitos poderia perder o interesse, mas de que serve então uma equipa de marines que praticamente não faz nada o filme inteiro? Não percebi o que eles estavam lá a fazer.

Mas o mais importante não é nada disto… poderia perder-me em pormenores infinitos que não são importantes e que poderiam ter sido alterados para que o filme funcionasse melhor. Afinal, trata-se de uma adaptação e se o que queremos é o jogo então… mais vale ficar em casa a jogar.

O problema é que a base de toda a premissa do jogo… e essa premissa é bem simples, foi modificada de tal maneira que o filme bem podia ser chamado “Beastly creatures from Mars”. No jogo, os cientistas da UAC libertam as criaturas do inferno (ou de outra dimensão, se assim preferirem), que destroem completamente a base em Marte, matando quase toda a gente. No filme, cientistas da UAC conduzem experiências secretas de melhoramento da espécie através de cromossomas sintéticos!

Não é a mesma história sequer. No jogo, o marine solitário tem que combater criaturas infernais com um único pensamento em mente: matá-lo. No filme, acaba por se descobrir que, afinal, os monstros são apenas humanos que sofreram mutações.

O problema disto tudo é que eu sei perfeitamente porque é que o filme é assim: é porque para os americanos, a palavra “hell”, CENTRAL a toda a série de jogos chamados “Doom”, é dos piores palavrões que se podem dizer.

Vi, há algum tempo, uma entrevista com o realizador do filme “Spawn” que dizia que pelo simples facto do filme dele incluir a palavra “inferno” (para quem conhece o comic, sabe perfeitamente que o Spawn não pode existir sem o conceito de inferno), o rating subia imediatamente para maiores de 16 ou coisa do género.

Portanto, ao fim de 12 anos í  espera de um filme baseado no Doom, tive – sem grande surpresa, diga-se – uma desilusão. Quem sabe, talvez um dia alguém recrie a guerra contra os Stroggs do Quake 2 e 4, num bom filme… em vez de mau.

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Escravo do meu intestino

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Quem me conhece sabe que já vivi várias aventuras í  custa do meu intestino. Houve a vez que tive uma diarreia explosiva na casa de banho do estúdio fotográfico de um potencial cliente. Houve aquela outra em que tive que parar na estação de serviço a meio da auto-estrada para ir a uma casa de banho nojenta. E outras aventuras, algumas das quais do conhecimento apenas de um selecto grupo de pessoas. Digo só isto: ainda bem que já vendi o Fiat Punto.

Hoje foi novamente dia de sofrimento colónico.

Ontem resolvi assar umas magní­ficas castanhas que a minha mãe me deu, vindas da minha avó e que, ao que constava, eram uma maravilha. Recebi um aviso sábio da minha mulher: amanhã vais estar cheio de dores de barriga e tens que ir trabalhar.

Tudo bem – pensei eu – como só algumas. Decidi então fazer 24 castanhas, precisamente 12 para cada um. Mas como adoro castanhas – e aquelas tinham um fantástico aspecto – optei por 30 castanhas, 15 para cada um.

Por problemas recentes com os dentes e as gengivas, a Dee não conseguiu comer muitas castanhas, pelo que eu pensei… 15, 16… 18, qual é a diferença? Não são muitas.

Mas castanhas não são precisas muitas.

Hoje, saí­ para almoçar com os meus amigos Gustavo e Fernando. O Gustavo precisava de comprar uma coisa na Worten, pelo que nos metemos no Golf do Fernando e fomos até ao Vasco da Gama. Fomos, comemos um bife na Portugália, o Gustavo comprou o que tinha a comprar. Até aqui tudo bem.

Tudo óptimo enquanto ainda estava dentro de um raio aceitável de uma casa de banho pública. Foi apenas quando o carro deixou o parque de estacionamento subterrâneo que a dor me atingiu. Tentei levar a coisa nas calmas, fiz uns comentários sobre gases e soltei uma amostra para por toda a gente í  vontade com a possibilidade real de eu me borrar todo a meio do caminho.

Num carro com três homens, um peido é motivo de grande diversão e esta chegou para me descontraí­r, pelo menos durante a passagem por Chelas. Quando chegámos í  Alemeda, comecei a ver a luz ao fundo do túnel, mas já era tarde.

Apesar de pertí­ssimo do nosso destino, em Picoas, o meu intestino não ia dar-me tréguas. A dor aumentou significativamente e comecei a sentir que não ia conseguir controlar o esfí­ncter que controlo há mais de 30 anos.

Os meu amigos, como bons amigalhaços que são, aproveitavam para gozar comigo í  grande e í  francesa. E eu só lhes pedia que se calassem. Mas claro… não se calaram. Eu teria feito o mesmo.

Ao passar o Técnico, fez-se luz na minha alma torturada: um restaurante!

Comecei a gritar com o Fernando para que parasse o carro e ele, sem perceber bem o que é que eu ia fazer quando ele parasse, lá encostou. Saí­ a correr para o tal restaurante que, reparei quando entrei, era uma espelunca minúscula e suja. Numa parede dizia “WC” e, por baixo, tinha um lavatório. Pensei que estava acabado… o WC ali era simplesmente um lavatório e eu ia borrar-me pelas pernas abaixo.

Perguntei ao velhote atrás do balcão, já com pouca esperança, se tinha casa de banho… ao que ele me disse que sim, era lá em cima. O meu mundo ressuscitou! “Mas vai lá aquele senhor”, acrescentou o velhote.

Olhei, horrorizado, enquanto um septuagenário subia lentamente a estreita escada de caracol que levava í  minha salvação. O que fazer? Vou atrás dele… espero, só mais uns segundos!

Subi, atrás do homem que se arrastava pelos degraus e lá em cima recuperei a esperança: havia duas casas de banho: homens e mulheres. Entrei rapidamente na das mulheres, acendi a luz, baixei as calças e… Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaleluia! Só quem nunca passou por isto é que não compreende o alí­vio que é. Independentemente do aspecto ranhoso da espelunca, independentemente do chão da casa de banho molhado com uma substância mais ou menos gelificada, apesar de ter dois colegas de trabalho no carro, lá fora, a pensar que eu não bato bem da cabeça, senti-me como se estivesse no paraí­so.

Foi então que percebi que não havia papel higiénico.

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Hallow…quê?

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Ao que parece, hoje é halloween. São dez da noite, a Dee está no banho a tentar esquecer um dia difí­cil e eu estou aqui sentado a viciar-me no Konfabulator.

Começam a tocar í  porta furiosamente. O meu cérebro dispara com possibilidades de emergências diversas e corro para a porta. Eram dois putos mascarados… mas que merda é esta?

Em que paí­s estamos, afinal? De quem foi a ideia de importar uma celebração que não tem qualquer significado no nosso paí­s? Que se seguirá? O dia de los muertos mexicano?

Bom… se pensarmos bem, o Carnaval, um pouco por todo o paí­s, mais não é que uma mí­mica des-cerebrada do que se passa no Brasil (embora lá seja Verão e cá, Inverno).

Eu nem me lembro que é halloween, o que é que é suposto eu fazer? Dar doces í s crianças?

Sou capaz de apostar que tudo isto começou com uma reunião de administração de uma qualquer empresa… de chocolates, por exemplo. Alguém se lembrou que se tivéssemos Halloween no nosso paí­s, seria mais uma oportunidade para aliviar os tansos do seu dinheiro.

E de facto, está a tornar-se cada vez melhor negócio: agora já se vendem máscaras, papelinhos, bisnagas de água e serpentinas duas ou três vezes por ano… carnaval, ano novo e agora o halloween.

Costumo dizer, meio a sério, meio na brincadeira, que o marketing é a representação do Mal na Terra. Sem implicações bí­blicas. O Mal, simplesmente, como ele foi já representado por Hitler ou Pol Poht. Mas confesso que já achei mais piada a esta frase… começo a preocupar-me.

Um dia, bastará por um poster a dizer “senta”…

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Ticking away…

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Uma destas noites sonhei que tinha quarenta e tal anos. Não sei quantos, ao certo, mas o sonho era pouco mais do que eu surpreendido por estar de repente com mais de 40 anos.

Passava o tempo a tentar explicar í s pessoas que tinha 32 e não 40 e tal e que devia ter havido um engano…

Acho que não podia ser mais evidente se tentasse: sinto-me a perder tempo, como se espremesse os dias e não saí­sse nada. Será que um dia vou mesmo acordar e ter 40 anos?

“Time”, Pink Floyd

Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an offhand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
And you are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but it’s sinking
And racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you’re older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in a quiet desperation is the English way
The time is gone, the song is over, thought I’d something more to say

Home, home again
I like to be here when I can
And when I come home cold and tired
Its good to warm my bones beside the fire

Far away across the field
the tolling of the iron bell
calls the faithful to their knees
to hear the softly spoken magic spell

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I’m the one with this big fucking hole

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Antes do Alex, a minha vida estava mais ou menos orientada… não se pode dizer que tivesse grandes ambições, mas sabia o que estava a fazer. A coisa baseava-se basicamente no meu trabalho que me ocupava horas suficientes para eu pouco mais fazer.

Depois, í  medida que ele crescia na barriga da mãe, fiz espaço para ele. Senti-me com um projecto e com um objectivo. Ia deixar de ser o Pedro que era há coisa de 10 anos pouco mais ou menos, quando saí­ da Faculdade e resolvi tornar-me adulto a sério e ia passar a ser o Pedro “agora é que é mesmo a sério”. Ia ser pai e sabia que ia ter que aprender muito e passar por muitas experiências novas.

Mas estava pronto para todas elas. Talvez não preparado, mas pronto para as receber. E quando o perdi, fiquei com um buraco… um vazio com o qual não sei bem o que fazer. Não perdi de vista o projecto, mas o espaço que criei está aqui agora… talvez venha a precisar dele daqui a dois anos, mas neste momento não sei o que fazer com ele.

Como é possí­vel amar tanto alguém que nunca vamos conhecer?

[tags]Alex[/tags]

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Há cerca de 12 anos atrás, joguei um jogo absolutamente fantástico de uma assentada só. Depois de sete ou oito (ou mais?), horas a jogar sem parar, saí­ para passear o cão e senti-me tonto e um pouco fora da realidade… ao fim de cinco minutos na rua estava mal disposto. O jogo chamava-se Doom […]

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Hallow…quê?

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I’m the one with this big fucking hole

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Antes do Alex, a minha vida estava mais ou menos orientada… não se pode dizer que tivesse grandes ambições, mas sabia o que estava a fazer. A coisa baseava-se basicamente no meu trabalho que me ocupava horas suficientes para eu pouco mais fazer. Depois, í  medida que ele crescia na barriga da mãe, fiz espaço […]

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