Escravo do meu intestino

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Quem me conhece sabe que já vivi várias aventuras í  custa do meu intestino. Houve a vez que tive uma diarreia explosiva na casa de banho do estúdio fotográfico de um potencial cliente. Houve aquela outra em que tive que parar na estação de serviço a meio da auto-estrada para ir a uma casa de banho nojenta. E outras aventuras, algumas das quais do conhecimento apenas de um selecto grupo de pessoas. Digo só isto: ainda bem que já vendi o Fiat Punto.

Hoje foi novamente dia de sofrimento colónico.

Ontem resolvi assar umas magní­ficas castanhas que a minha mãe me deu, vindas da minha avó e que, ao que constava, eram uma maravilha. Recebi um aviso sábio da minha mulher: amanhã vais estar cheio de dores de barriga e tens que ir trabalhar.

Tudo bem – pensei eu – como só algumas. Decidi então fazer 24 castanhas, precisamente 12 para cada um. Mas como adoro castanhas – e aquelas tinham um fantástico aspecto – optei por 30 castanhas, 15 para cada um.

Por problemas recentes com os dentes e as gengivas, a Dee não conseguiu comer muitas castanhas, pelo que eu pensei… 15, 16… 18, qual é a diferença? Não são muitas.

Mas castanhas não são precisas muitas.

Hoje, saí­ para almoçar com os meus amigos Gustavo e Fernando. O Gustavo precisava de comprar uma coisa na Worten, pelo que nos metemos no Golf do Fernando e fomos até ao Vasco da Gama. Fomos, comemos um bife na Portugália, o Gustavo comprou o que tinha a comprar. Até aqui tudo bem.

Tudo óptimo enquanto ainda estava dentro de um raio aceitável de uma casa de banho pública. Foi apenas quando o carro deixou o parque de estacionamento subterrâneo que a dor me atingiu. Tentei levar a coisa nas calmas, fiz uns comentários sobre gases e soltei uma amostra para por toda a gente í  vontade com a possibilidade real de eu me borrar todo a meio do caminho.

Num carro com três homens, um peido é motivo de grande diversão e esta chegou para me descontraí­r, pelo menos durante a passagem por Chelas. Quando chegámos í  Alemeda, comecei a ver a luz ao fundo do túnel, mas já era tarde.

Apesar de pertí­ssimo do nosso destino, em Picoas, o meu intestino não ia dar-me tréguas. A dor aumentou significativamente e comecei a sentir que não ia conseguir controlar o esfí­ncter que controlo há mais de 30 anos.

Os meu amigos, como bons amigalhaços que são, aproveitavam para gozar comigo í  grande e í  francesa. E eu só lhes pedia que se calassem. Mas claro… não se calaram. Eu teria feito o mesmo.

Ao passar o Técnico, fez-se luz na minha alma torturada: um restaurante!

Comecei a gritar com o Fernando para que parasse o carro e ele, sem perceber bem o que é que eu ia fazer quando ele parasse, lá encostou. Saí­ a correr para o tal restaurante que, reparei quando entrei, era uma espelunca minúscula e suja. Numa parede dizia “WC” e, por baixo, tinha um lavatório. Pensei que estava acabado… o WC ali era simplesmente um lavatório e eu ia borrar-me pelas pernas abaixo.

Perguntei ao velhote atrás do balcão, já com pouca esperança, se tinha casa de banho… ao que ele me disse que sim, era lá em cima. O meu mundo ressuscitou! “Mas vai lá aquele senhor”, acrescentou o velhote.

Olhei, horrorizado, enquanto um septuagenário subia lentamente a estreita escada de caracol que levava í  minha salvação. O que fazer? Vou atrás dele… espero, só mais uns segundos!

Subi, atrás do homem que se arrastava pelos degraus e lá em cima recuperei a esperança: havia duas casas de banho: homens e mulheres. Entrei rapidamente na das mulheres, acendi a luz, baixei as calças e… Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaleluia! Só quem nunca passou por isto é que não compreende o alí­vio que é. Independentemente do aspecto ranhoso da espelunca, independentemente do chão da casa de banho molhado com uma substância mais ou menos gelificada, apesar de ter dois colegas de trabalho no carro, lá fora, a pensar que eu não bato bem da cabeça, senti-me como se estivesse no paraí­so.

Foi então que percebi que não havia papel higiénico.

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11 comentários a “Escravo do meu intestino”

  1. pachita says:

    ahahahahahahaha!
    Desculpa, mas a forma como contaste a história foi hilariante! E tem cuidado com as castanhas. hehehe

    Beijinhos para vocês os dois. :)

  2. Ahedonia says:

    OMG OMG! Obrigado por um começar de dia a rir-me í  parva! E sei bem o alí­vio que é, diria mesmo o PRAZER! Sim, pois concordo com o Micael, amigo de adolescência, que defende que “Mais vale uma boa cagada que uma *blank* mal dada”. A brejeirice não lhe retira veracidade. E agora rir-me mais um bocado relendo o post… :)

  3. Quela says:

    Aconteceu-nos o mesmo há uns anos atrás quando, um sábado de manhã em que escolhí­amos os materiais deconstrução para o apartamento que então estavamos a remodelar, o meu marido, com um ar verdadeiramente assombrado e quase lí­vido, vem ter comigo a pedir-me para irmos embora pois a Expogrés , ali na estrada de Sesimbra não tinha na altura WC. Lá saí­ sem grandes pressas e muito pouco resignada com o facto de não poder ver mais azulejos e banheiras. O meu pobre marido só me apressava pois na altura ele não tinha carta e era eu que conduzia o velho Ax para todo o lado. Quando por fim parámos numa tasca ele entrou e saiu passados poucos minutos. Era uma WC daquelas que é só um buraco no chão…mas pronto “it did the job”

  4. says:

    pronto, uma boa história de cabra-macho. ainda tou a limpar as lágrimas de me rir….

    A teoria dos 3 homens num carro e um peido, é verdade.

  5. wysiwyg says:

    Isto só tem piada quando acontece aos outros, ou depois de já ter passado… Na altura devia apetecer-te tudo menos rir. :P
    Ainda ninguém perguntou o óbvio. Depois da linha final, fica a questão no ar: o que aconteceu depois? :)

  6. Elsa Moura says:

    Ahahahah,

    Pois é amigo, há quatro semanas atrás aconteceu-me o mesmo, estava
    num autocarro em Londres a caminho de Oxford … o sumo de laranja do
    pequeno almoço foi fatal … e não fazes ideia do alivio que foi quando vi
    o universal McDonalds!!!
    Beijinhos para vocês!

  7. Lisbon says:

    tu e o meu pai fariam uma dupla brilhante em correr pra casa de banho publica mais perto e cagar `a patrao

    ….e pronto era isso

  8. babinha says:

    Nós e a casa de banho…..

  9. Lazúliy says:

    LOL. Por amor da santa, ler isto no local de trabalho é de brandar aos céus. O que devem ter pensado os meus colegas?! bem, lindo é so ler e imaginar a cena toda e desatar í s gargalhadas. Sim pois nós só nos rimos das desgraçadas dos outros, mas o que é certinho e direitinho é que sabe bem como «óh caraças» chegar a retrete e Jás…. e ali vai disto…. se for comparado com o orgasmmmmmm é mais o parecido. É uma sensação de … expulsão… quem ainda não sentiu dessa forma que avançe

  10. Rodrigo Afonso says:

    Enfim a vida há de ser muita coisa
    Muita coisa para nada

  11. Vitor says:

    (com as devidas desculpas por estar a responder num post com 6 anos)

    Ahhhh… (que post do caneco!) -> um marco neste blog, sem dúvida alguma!

    Há uns 30 anos atrás, um senhor que há muito já partiu dizia: “O maior prazer de todos é o prazer de cagar”! (afirmação polémica, sem dúvida, mas real vinda de um antigo amigo e autêntico filósofo popular…)

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