Publicado em , por Pedro Couto e Santos
O dia não foi bom hoje.
Não acordei especialmente bem e as coisas começaram logo a deteriorar-se com o facto da Dee precisar de resolver um problema com a Segurança Social, como não podia deixar de ser.
Em vez de aceitarem a baixa para recuperação de internamento que pedimos (apenas um mês, de um salário que é – quase – o mínimo nacional), resolveram devolver uma carta com um formulário para preencher, pedindo mais uma carta do médico e o diabo-a-sete. Depois do que se passou e do que isso significa para nós, ter que aturar burocratas é a última coisa que nos apetece.
Seguiu-se um telefonema em que a funcionária da Segurança Social insistia que o pedido era uma baixa por aborto. Caso contrário seria uma licença de maternidade.
A segurança social desconhece, portanto, o conceito de nado morto e as diferenças que este apresenta em relação a um caso de aborto.
A piorar o caso, a Dee enganou-se a preencher o formulário que tinha que ir entregar e foi í segurança social tentar obter outro, tarefa que é impossível, visto que í uma da tarde estão lá pessoas que chegaram í s nove da manhã.
Quando se aproximou do balcão para perguntar se para levar um reles formulário tinha que esperar a vez, a senhora perguntou-lhe se tinha um bebé.
É, pelos vistos, a única razão pela qual dão prioridade í s pessoas… o que nem era o caso. Bastaria talvez, terem os formulários disponíveis em escaparates, para as pessoas se servirem e não terem que esperar seis horas para levar um papel de merda para casa. A Dee regressou sem papel nenhum como é evidente e a chorar desesperadamente.
Como é que podemos fazer coisas normais sem sofrermos? Culpamos as outras pessoas por nos magoarem sem saber? Culpamos o mundo por continuar a existir e todos os casais com as suas crianças por continuarem as suas vidas?
Já não estava nos meus melhores dias… o primeiro dia de umas curtas férias, na verdade… e a coisa não melhorou. Depois de comermos qualquer coisa e vermos um episódio do Sex and the City resolvemos ir ao Forum onde a Dee queria ver sapatos.
O dia não melhorou muito. Houve certas alturas em que tive a impressão de estar a ser perseguido por carrinhos de bebé, í s dezenas, rolando pelos corredores do centro comercial com bebés cada vez mais pequenos lá dentro, com os seus olhares esbugalhados e dedos minúsculos metidos na boca.
Estou derrotado. Pensei que estava a vencer, mas era apenas uma ilusão criada pela necessidade de me comportar normalmente no escritório. Agora que estou em casa, começo a perceber que afinal, estou longe de estar em paz e de ultrapassar a falta que me faz o meu filho.
E não posso fazer nada.
Vieram-me lágrimas aos olhos quando li este post.
Fico revoltada por não poder fazer nada.
Só posso dar um abraço apertado. Para ti e para a Dee.
A comparação não é das melhores, mas o teu post so me fez lembrar quando temos uma ferida e parece que tudo vai lá bater e nos faz doer terrivelmente.
Nada podemos fazer a não ser cuidarmos de nós até a ferida começar a sarar … e ficar só a cicatriz … essa não vai desaparecer … mas vai doer menos.
Um beijo grande de coragem para vocês
Ao contrário da minha irmã, não me vieram as lágrimas aos olhos.
Senti uma imensa vontade de estar convosco, como se a minha presença fosse remédio para acalmar a vossa dor.
Sei que não é…., mas gostava que fosse.
Beijos
Caro Pedro,
Falo-te agora como alguém que há muito atravessa o vale solitário da depressão profunda que tomou de assalto a minha vida, já a habitava a muito tempo mas cansou-se de falta de protagonismo e desde há uns anos a esta parte que enfim o caminho tem sido longo e penoso…independentemente de como se chega lá, o que despoleta é sempre uma situação de perda e depois vem o fundo do abismo em que todos os dias são um teste í nossa força, coragem e resolução…
Desde o início que tenho sentido vontade de escrever í Dee, para partilhar o que têm sido os últimos anos com o caos que se instalou, o bater no fundo, acordar um dia e não ter vida que primeiro explodiu, depois implodiu, e no meio disso deixei de saber quem eu era, o que fazer, como fazer, como reagir, como continuar a viver, o que fazer porque a vida que tinha já não existia…
Não o fiz porque não queria intrometer-me, estar out of line, mas esta vivência torna-me muito sensível e empática ao sofrimento, não consigo virar a cara, e por isso só vos posso pedir desculpa pelo abuso…
Hoje as coisas estão um pouco melhores, mas aprendi que o tempo e muito sangue, suor e lágrimas são o único remédio para tudo isto, a vida que tinha desapareceu, foi alterada para sempre, já não quero voltar para ela, aceitei que desapareceu, por muito que me custe que gostava de ter uma varinha mágica para arranjar tudo, mas não posso, pelo que o meu luto continua e lentamente vou refazendo e recolocando os cacos…
Vai fazer 3 anos em novembro que todas as semanas tenho terapia, talvez a única coisa certa durante todo este tempo, uma âncora naquilo que se tornou um mar violento com períodos de calma…em que nada é certo, em que depois de pensar que já tinha avançado muito, descobria que era ilusão e que ainda tinha de dar passos…
Anseio por um dia em que a depressão com todos os seus choques não seja a coisa mais importante do meu dia a dia, mas sei que ainda não vai ser tão cedo, aconteceram demasiadas coisas, sofri demais, tenho cicatrizes demais…aprendi também que devagar se vai ao longe e que há que tratar das coisas como deve ser, arrumar as gavetas, chorar, fazer o luto, lidar, fazer tudo o que acharmos que temos de fazer para tratar de nós e um dia com muita calma dar um passo em direcção a uma vida que desconheço mas que apesar disso é a minha…
Sinto que i’m wise beyond my years, e isso tirou-me alguma da doçura do olhar e mudou partes de mim, mas outras resistiram a tudo, as melhores partes e são essas que nos têm de guiar…
Sei que provavelmente estou muito out of line, mas há algo em mim que ao ver certas coisas não consegue ficar de braços cruzados, eu vivo neste abismo há muito tempo e não desejo isto a mais ninguém e não consigo não tentar ajudar, por isso as minhas desculpas….
Há uma ervanária no porto ( http://www.bioplantas.com/ – geralmente trato de tudo com as meninas da loja de pinto bessa, tel – Tel. 22 5371565) que envia í cobrança uns comprimidos chamados ASF (anti-stress factors), que me ajudaram imenso no sentido de me estabilizar a ansiedade e o pânico, ajudaram-me beyond belief, deram-me alguma paz para conseguir lidar com certas coisas, numa altura em que o meu corpo já estava tão programado para estar em estado de vigília constante em que de facto achei que precisava de ajuda para o desprogramar, foi das melhores coisas que fiz por mim
A meditação e o reiki com a fabulosa maryianna também me ajudaram imenso, bem como a terapia, mas acima de tudo tem sido o estar lá todos os dias, í s vezes não sabendo muito bem como, sem forças para respirar sequer quanto mais para enfrentar seja o que for, andando 100, caindo 99 e tentando arranjar forças para retomar o percurso…é um momento de cada vez, o que infelizmente soa a muito pouco right now…
Ontem deram-me este contacto desta associação, passo-o just in case: http://megabebes.pt/artemis/artemis.asp
Passei também í Rita os contactos da minha médica if you so wished them, a quem devo a vida que tenho hoje, não me resolveu nada, isso tenho de ser eu a fazer por mim, mas a fé inabalável em mim numa altura em que não via nada de nada deram-me mais do que algum dia lhe conseguirei expressar…
Peço-vos desculpa uma vez mais pela intromissão, espero que me perdoem e não me levem a mal, mas se vos puder poupar uma lágrima que seja naquela que é a vossa jornada neste abismo tão doloroso e solitário…
Beijos e muita força e luz para vocês hoje e sempre, Ana
posso dizer-te que os comprimidos que a Ana te recomendou, o ASF, são realmente bons, tomo-os tb, não que tenha ataques de pânico, mas para estabilizar a ansiedade e o stress que tenho vivido desde o nascimento do meu filho. Não porque ele seja uma criança difícil, que não é, é um verdadeiro querubim, mas por várias razões a alegria inicial da maternidade foi-me retirada. Veio quando fiquei sozinha a cuidar do menino. Leio o diário da Dee e o teu e posso dizer-te
que não me aconteceu nada daquilo que vos aconteceu, mas td a vivência no hospital, em que literalmente nos abandonam, ninguém nos ajuda e os problemas que surgiram depois em casa quase me atiraram para uma depressão pós-parto, da qual demorei a recuperar sozinha e há coisas que senti nessa altura que revejo nos relatos da Dee e nos teus. Espero sinceramente que os vossos dias melhorem, nem que seja pouco a pouco.
Um abraço sentido a ambos.
Apesar de tudo, temos de continuar,… “stay strong”.
Net Bebes
http://www.net-bebes.com
net-bebes.com
Descrição: Um guia prático, com vários artigos de bebés e crianças para os pais e educadores.
Palmas ao génio da net bebés que colocou um comentário publicitando o seu site num post sobre a morte de uma criança.
Que tenham tudo o que de mau merecem.