Coisas boas, coisas más

Publicado em , por macaco

Cada um só pode ser dono de uma verdade. A sua própria verdade. Quando alguém se propõe ser dono da Verdade, com “v” maiúsculo, a verdade de todos, a verdade dominante, temos o caldo entornado.

Ao longo da história, muitas pessoas sofreram deste problema… Adolf Hitler, Mao Zedong, Josef Stalin, George W. Bush…

Não resisti. :-)

Bem, mas eu só sei de mim. E mesmo assim, muitas vezes não tenho a certeza. Mas sei que se todos vivessem sob o meu domínio despótico seria horrível… um mundo onde é proíbido comer peixe, onde toda a gente tem que saber jogar True Combat e onde a televisão só passa Buffy e Farscape non-stop.

É extremamente difícil definirmo-nos pelos nossos gostos. Daí, parecer-me extremamente simplista dizer “sou heavy”, como era muito normal quando eu era adolescente. Vestiam-se jeans pretos apertadinhos, t-shirts dos Metallica, coletes de ganga que já tinham sido blusões antes de terem os braços arrancados e, claro, deixava-se crescer o cabelo.

E só se gostava de heavy metal. That goes without saying.

Muitas vezes, o principal problema destes grupos demasiado fechados é que nem sequer conhecem ou apreciam as raízes do estilo musical que seguem. Por exemplo, os fans do heavy metal dos anos 80 não sabiam quem eram os Deep Purple e não viam qualquer ligação entre os Led Zeppelin e a evolução do metal.

Eu nunca conseguiria definir-me assim. E se isto é verdade na música, é também verdade noutros prazeres da vida, como o cinema, a comida, qualquer tipo de entretenimento, enfim… as coisas que nos preenchem os dias, de uma maneira ou de outra.

Uma coisa que achei especialmente divertida no “High fidelity” (o filme, já que ainda não tive oportunidade de ler o livro), foram as listas, os “top ten”, que o personagem principal vai descrevendo ao longo da história. E já por várias vezes tentei fazer isso, concluindo que é extraordinariamente difícil, pelo menos, para mim.

Por exemplo, se eu tentar fazer um top 10 dos melhores álbums de sempre para mim, começava por onde? As minhas influências mais antigas, iniciando com “Tubular bells” do Mike Oldfield (versão regravada, 30 anos de aniversário, sai em 26 de Maio, versão dolby surround 5.1 super-audio-DVD a sair pouco depois)?

Ou talvez com os meus gostos mais actuais, talvez com… “( )” dos Sigur Rós ou “Kid a” + “Amnesiac” dos Radiohead? E depois quando chegasse aos Led Zeppelin? Os três primeiros álbums… todos ex aequo?

Talvez funcionasse melhor se construisse uma lista de melhores canções… ou talvez não… “Everything in its right place” dos Radiohead ou “Purple haze” do Jimi Hendrix? São uns 30 anos de diferença.

Acho que talvez goste de demasiada música diferente para conseguir fazer uma lista destas. O problema é que acho que a música está toda ligada… acho… não é uma questão de achar, não se trata de opinião pessoal… a música está mesmo toda ligada. Está ligada pelas mesmo sete notas e adicionais cinco meios-tons, pronto… Doze elementos-base para combinações verdadeiramente assombrosas.

Se falarmos de filmes, vamos mais ou menos cair nos mesmos problemas, embora nos filmes eu seja já bastante mais selectivo do que na música.

Quanto a livros, sou um leitor demasiado lento. Levo um tempo ridículo a ler um livro e torna-se difícil acumular muitos e definir gostos específicos. Sei, por exemplo, que os policiais não me atraem muito, já tentei ler alguns e desisti. A ficção científica sempre me atraiu mais, mas ultimamente tenho andado mais interessado nas histórias mais ou menos “normais” sobre pessoas, como as do Douglas Coupland.

Se considerarmos normal o apocalipse no fim de uma história perfeitamente normal sobre um grupo de amigos ao longo dos anos.

Bom, acho que em conclusão, a música é definitivamente o elemento mais presente no meu dia-a-dia. E no entanto, não consigo definir-me através dela.

Não “sou” um estilo.

E muitas vezes isto complica-me a vida. Quando, por exemplo, não consigo decidir que CD por a tocar. Daàque de vez enquando oiça todos os CDs, por ordem alfabética, ou faça um sorteio de 5 CDs, apontando ao acaso para a prateleira.

Mas também sou capaz de odiar algumas coisas. Sim. É verdade.

O meu ódio por alguma música é também bastante forte. E posso fazer uma lista extensíssima de fulanos que pura e simplesmente odeio:

– Enrique Iglesias

Enfim, alguns mais vale ignorá-los, suponho. Mas muitas vezes não consigo. Quando, por exemplo, esses grandes lords do hip-hop, ou melhor do rip-hop, surgem, glorificados, na MTV, apresentando os seus casacos de peles, carros fabulosos, mansões estupendas e mulheres semi-nuas baomboleando-se em seu redor, surgem entoando mais uma palhaçada qualquer sobre a backtrack de um êxito estupendo de outra pessoa…

No início era o Sean Combs (uma espécie de “Zé Pentes”, em português), depois mudou o nome para Puff Daddy e agora conhecido como P. Diddy. Este homem, além de insuportável, tem um problema nos adenóides e passa o tempo com a boa aberta ea lingua levemente de fora. Faz brutais êxitos a partir de músicas de outras pessoas e se custou ouvi-lo cantar “I’ll be missing you” em vez de “I’ll be watching you”, assassinando o “Every breath you take” COM o Sting em palco, fez-me ainda mais impressão vê-lo destruir o Kashmir, dos Led Zeppelin, para a banda sonora do “Godzilla” COM o Jimmy Page na guitarra.

Este gajo deve ser o fornecedor de coca de muita gente.

Não que eu ache que haja alguma coisa errada com usar backtracks e samples, até me parece que se obtêm coisas fabulosas, como o Glory Box, dos Portishead. Mas, por qualquer razão, sempre me fez muita impressão saber que as pessoas não reconhecem os verdadeiros autores das músicas… eu sou mesmo assim.

Uma vez apanhei um colega na Faculdade a cantar o “Downtown train”, assobiei algumas notas para o acompanhar e no fim, com um certo ar de reconhecimento pisquei o olho e disse… “Tom Waits…”

“Não”, respondeu-me o infame, “Rod Stewart!”.

ROD STEWART!?
O Rod Stewart é um palerma decadente foleiroso de primeira casta que sabe-se lá porquê, decidiu gravar uma versão do “Downtown train”, que é uma música do TOM WAITS.

Assim como o “Knocking on heaven’s door” e o “Live and let die” NíO SíO músicas dos Gun’n’Roses, mas do Bob Dylan e Paul McCartney, respectivamente.

Isto tudo para dizer que um dia, o mundo será meu.

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