Publicado em , por macaco
A semana começou hoje, relativamente calma, com um programa interessante pela frente: três dias de estágio de White Crane e um fim de semana de Taiji Ball.
Tive um bom fim de semana e vontade de voltar ao trabalho hoje estava abaixo de “nulo”. O dia correu mais ou menos bem, mas sinceramente estou fartíssimo de trabalhar. Já não tem piada, estou saturado. O que é grave, se considerarmos que ainda não tenho sequer 30 anos e, previsivelmente, irei trabalhar mais 35.
Hoje vi uma coisa num programa de decoração daqueles que os ingleses adoram e que costumam passar na BBC à hora de almoço. O designer estava encarregue de refazer a cozinha e estava a explicar como ia ser. Os donos da casa não gostavam de nada do que ele lhes apresentava e recusavam-se a aceitar, por exemplo, que ele fizesse armários de cozinha verdes.
O fulano, porém, foi peremptório: vão ter que confiar em mim, vai ser verde e mais nada.
Já durante a obra, os armários tinham uma camada de primário, branco e o dono da casa saiu-se logo com um “pronto, fica assim!” ao que o designer respondeu: “não, não fica assim, vai ser verde.”
E no fim ficou mesmo verde. A cozinha ficou com dois tons adjacentes: um amarelo texturado e o tal verde e com uma cor contrastante num frigorífico completamente azul. Em conjunto com partes em madeira, ficou bestial.
Estou farto de desenhar sites para conselhos de administração, quando devia estar a desenhar sites para o público. A questão não é o feedback do cliente, a questão é a lei do cliente-é-que-sabe e nós fazemos um site em azul sobre vermelho se o cliente quiser (são cores saltitantes, caso não saibam).
Bem, isto já parecem lamentos de adolescente incompreendido, o que, sinceramente, não me fica nada bem. Mas é mesmo assim: ao fim de cinco anos já testemunhámos tanta estupidez que me faz impressão como é que o nosso país ainda existe… mas é verdade, todo aquele folclore de que o país é feito de três ou quatro famílias, donas de tudo, que está a ser lentamente comprado pelos espanhóis, que as coisas se resolvem todas em almoços entre administradores que são amigos uns dos outros.
É mesmo assim e não varia, não foge ao padrão. Vivemos no país do “o meu pai é polícia”, “o meu clube tem mais taças”, “a minha empresa tem mais empregados e financiamento”.
Nós na nitrodesign somos só quatro. No entanto, nalgumas lendas urbanas que já nos chegaram aos ouvidos somos “pelo menos 20″… mas porquê? Nós não precisamos de ser vinte. Ninguém precisa de vinte pessoas para fazer o que nós fazemos.
Não. Mas são precisas vinte pessoas para “fazer muitos” e “fingir que somos bons”.
Porque é que há empresas que pagam a agências de publicidade mil contos por mês em avenças de manutenção de sites? Porque é que há empresas que gastam 150 contos POR MÊS em alojamento web reles, quando por cem contos por ANO se tem um alojamento com um serviço de cinco estrelas, com um downtime inferior a 24 horas em cinco anos?
A preocupação das empresas é vender. E o naïf sou eu que acho que devia ser “prestar um bom serviço”. Patetices, suponho que isto me passe com a idade. Mas por qualquer razão ainda não consegui transformar-me num implacável calculista. É pena, porque talvez assim tivesse menos preocupações e mais dinheiro no banco.
Por isso é que eu digo: romantismo para quê? Profissões nobres para quê? Carreiras criativas e dinâmicas para quê?
Construção civil ou futebol! Ensinem aos vossos filhos: construção civil ou futebol. O resto… é paisagem.