Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Que sábado tão produtivo que tive hoje. Comecei por dormir de manhã, coisa que já não saboreava há algum tempo, embora continue a acordar desconfortável, com dores nas costas, o que não é nada agradável.Bom, depois de um cafézinho que a Dee me tinha deixado na mesa de cabeceira e de passar revista í s notícias (grande bocejo), resolvi que hoje era dia de experiência culinária.
Nem mais, decidi fazer a minha primeira tarte de maçã. A receita não é complicada, mas custa a fazer… preparar a massa é um exercício vigoroso, descascar e cortar maçãs é uma prova de destreza manual e esperar que a massa “assente” é um teste de paciência.
Já tirei umas notas mentais sobre o que melhorar para a próxima e também já tenho umas ideias para umas tartes diferentes, mas a verdade é que ficou sensacional, very tasty indeed.
Passei a tarde com a Dee, a ver o “Mummy Returns”, que, não sendo mau de todo, não é nem um quarto tão divertido como o primeiro.
O resto da tarde foi passado a jogar “Medal of Honor: Allied Assault”, o demo single player, que ainda não tenho o jogo completo. Enfim, eu andava babado com o Wolfenstein, mas sinceramente, o Medal of Honor faz esquecer rapidamente o Wolf… O realismo é muito superior, as opções visuais são mais que muitas (várias das quais o meu pobre Duron 800 não aguenta), a jogabilidade é um vício e as armas são de chorar por mais… M1911, Thompson, M1 Garand, Mauser KAR98… são algumas das minhas favoritas. As animações são sensacionais, a AI dá pica e nem sempre é fácil de matar… as MG42 estacionárias são uma beleza e os designers do mapa de demo não se esqueceram de despoletar uma vaga de nazis a sair de um prédio mesmo na altura em que nos pomos por trás de um daqueles brinquedos… just for fun. :)
Ao fim do dia estive de volta do projecto em que estamos a trabalhar agora, sobretudo a fazer testes com som, uma coisa com que sempre brinquei, mas com a qual nunca fiz nada de verdadeiramente concreto. Peguei ainda no Reason e no nosso controlador Roland e fiz uma música de abertura que acho que ficou mesmo porreira. A coisa avança, talvez em breve, finalmente… se possa ver alguma coisa.
Jantei mais uma pizza congelada daquelas que me vou arrepender de ter comido, quando tiver 60 anos e acabei de rever o “Event Horizon” no DVD que o Cunhado me tinha emprestado. O filme é giro, mas já me lembro o que é que não tinha gostado da primeira vez: há uma altura em que tudo acontece muito depressa e quase sem se perceber e no fim, depois de tudo aquilo, ficamos com água na boca para ver a nave viajar pelo gateway, o que não chega a acontecer… gostava de ter visto como resolveriam essa situação.
Estou também a ler um livro novo, depois de uma longa pausa para banda desenhada apenas. Encomendei da Amazon o “Sexus”, do Henry Miller. Sobretudo porque sempre vi os livros do Miller em casa dos meus pais (durante anos a fio, se não os tinham mesmo desde que nasci, devem tê-los comprado pouco depois) e nunca li nenhum. Ao ler as memórias do meu pai, reparei que ele referia o Henry Miller e lembrei-me da cena que eles fizeram, na casa do Algueirão, montando um altar ao homem, no jardim, na altura em que ele morreu. Era uma mesinha com velinhas, os livros e uma foto. Fizeram-se fotos e registou-se a ocorrência, provavelmente em slide.
Bom, tudo isto para dizer que, depois de todos estes anos, vou finalmente ler um dos livros. E para quem não sabe, não comprei o “Sexus” por ter esse nome e eu ser um porcalhão, mas sim porque é o primeiro de uma trilogia semi-autobiográfica intitulada “The Rosy Crucifiction”.
A verdade é que comecei a ler o sacana do livro (edição no original inglês) e aquilo está fabulosamente escrito. As frases entrelaçam-se umas nas outras de uma maneira excepcional, as palavras parecem todas escolhidas a dedo e as ideias não precisam de interpretação, vão directamente para o cérebro. Não se para de ler um livro assim, é daqueles que se lê a uma velocidade esgotante.
Há muito tempo que não encontrava um livro assim, acho que é um prazer especial nunca ter pegado o Henry Miller até agora, porque vou ter o gozo de o descobrir.
Não resisto a transcrever uma parte, pode ser uma parte qualquer, esta, por exemplo:
“(…)The truly great writer does not want to write: he wants the world to be a place in which he can live the life of the imagination. The first quivering word he puts to paper is the word of the wounded angel: pain. The process of putting down words is equivalent to giving oneself a narcotic. Observing the growth of a book under his hands, the author swells with delusions of grandeur. ‘I too am a conqueror – perhaps the greatest conqueror of all! My day is coming. I will enslave the world – by the magic words…’ Et cetera ad nauseam.”
Não é bonito? Quando uma coisa é bem escrita é quase visível, quase que se ouve, é gráfico e musical. Tem algo de profundo, mas também algo de muito superficial, um prazer no ritmo e na fluidez que nos agarra e nos põe dentro das palavras.
Acho que é por isto que nunca mais li um livro traduzido do inglês. Tenho pena de não saber ler mais línguas como deve ser, porque uma tradução (especialmente hoje em dia, que as traduções estão cada vez mais a um nível deplorável), deve roubar tanto deste prazer ao original, que praticamente retira uma fatia inteira do livro.
Bom, vou ali descansar mais um bocado…