Dias estranhos

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Há dias estranhos.Picture this… perto das dez da manhã, estava no carro, com a Dee, parado na expectativa de saltar para o meio da rotunda do Centro Sul. Entrei na rotunda, como habitualmente, pela faixa do meio e na faixa í  minha direita seguia um carro branco que não cheguei a ver que tipo de carro era.

O fulano do carro branco começou-se a colar í  minha direita como se quisesse, forçosamente, vir para cima de mim. Seguiram-se os comentários da ordem, a Dee diz “este tipo está parvo” eu asseguro que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo e que se ele quer entrar, entra a seguir. Dito e feito.

Saí­ da rotunda, em direcção í  Costa, e virei na saí­da para a A2, direcção de Setúbal, como é, também, habitual… antes de entrar na curva reparei no velho e sujo Renault 5 castanho café-com-leite, tão tí­pico dos anos 80, com um autocolante do Benfica na traseira e do qual, o passageiro da frente tinha acabado de deitar uma garrafa de plástico vazia para a estrada. Tirei as mãos do volante e aplaudi o artista, exclamei qualquer coisa na onda de “onde é que este paí­s vai parar”.

Entrei na apertada curva de entrada para a A2, o tipo do Renault 5 ia a minha frente e í  frente dele uma carrinha em marcha bastante lenta… não é muito estranho para aquela curva, que é, como eu disse, apertada e ainda por cima havendo obras de construção dos acessos ao novo mega-centro-comercial que estão a construir aqui em Almada.

Estranho era o tipo do carro branco, é que agora o fulano estava í  minha esquerda, estupidamente colado e tentava a toda a força afiambrar-se. Assim que teve espaço passou-me mesmo, já na curva de acesso e a porta começou-se a abrir.

Gritei “este tipo está louco!”, seguido, num volume maior de “está a abrir a porta!!” e finalmente, já com incredulidade na voz: “tem uma arma!!!”

Tinha mesmo!

O carro branco ultrapassou-me pela esquerda e a meio da curva enfiou-se, atravessado, í  frente do Renault 5. A carrinha que ia í  frente parou também e de ambos os veí­culos saí­ram um magote de tipos de pistola em punho, carregando as mesmas e gritando “polí­cia!”.

Deixei descair ligeiramente o carro, quase por instinto, pensando talvez que uma bala perdida pudesse voar-me pelo para-brisas adentro. Algo me dizia para tentar raspar-me mesmo, mas ao mesmo tempo não podia perder aqueles front row seats!

Do Renault 5 saiu um tipo negro, enorme, mas com pouco ar de ser africano, pois tinha um tom de pele bastante mais claro que o habitual nos africanos. O tipo tinha um ar de gangster, todo vestido de preto, com uma camisola de gola alta e montes de fios e pulseiras de ouro por todo o lado… bom, ar de gangster, ou de cantor de música pimba, claro. O fulano levantou logo as mãos e cambaleou um bocado na berma da estrada, assustadí­ssimo com as cinco ou seis pistolas apontadas na direcção dele por polí­cias gritando ordens variadas.

Infelizmente não pude ver mais nada, porque um dos polí­cias, chamemos-lhe o “chefe”, quase careca e de farto bigode alourado, começou a gesticular com violência para que avançássemos. Passei no espacinho í­nfimo deixado entre a confusão de carros e o rail e raspei-me para Setúbal.

Não podia ter pedido melhor entretenimento para uma manhã de sexta-feira. Não percebi o que se passou ao certo. Mas gostei.

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