Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Levantei-me í s seis, ainda faltava um pouco para o Sol nascer. Vesti-me rapidamente, para não deixar que o frio levasse a melhor e calcei as minhas docs como se de um ritual antigo se tratasse.
Fui ao armário do hall buscar a mala da Remington, enquanto mastigava qualquer coisa para afugentar a fome. Abri a mala e verifiquei que estava tudo em condições. Puxei pela alça e a SR8 soltou-se suavemente do poliestireno. Coloquei-a í s costas.
Acabei de beber o café, dei um beijo í minha mulher que dormia suavemente, rodeada de gatos e inspirei profundamente. Noite de paz… não é o que diz a canção?
Subi ao telhado onde já tinha deixado as coisas preparadas ontem… uns baldes, umas ferramentas, umas telhas soltas. Não excessivamente encenado, mas no geral, uma boa imitação de uma qualquer obra a decorrer, abandonada na véspera de Natal pelos construtores, que se juntaram í s famílias para comer bacalhau e trocar prendas.
O oleado era perfeito para me esconder. Fiz deslizar a Remington para a minha frente e soltei a alça, que pus de lado para não atrapalhar. Coloquei o carregador, suavemente, por baixo e deixei que a minha mão se deleitasse com o prazer indescritível de mover o ferrolho para trás, sentir a primeira bala a colocar-se e voltar a fechar a câmara, com lentidão e precisão.
Tapado pelo oleado, deitei-me sobre as telhas frias e esperei. Visto de longe a minha presença era imperceptível. Passaram duas horas, o Sol nasceu e um dia de céu branco desenhava-se í minha frente. Paciente, continuei a esperar… sabia que o velho fazia sempre uma passagem de manhã para verificar o terreno, antes da grande entrega.
Passados apenas mais uns minutos, a minha espera revelava-se frutífera: ao longe, quase indistintos, mas reais aos meus ouvidos, os guizos chocalhavam com a sua melodia habitual.
Preparei melhor a Remington, pus um olho contra o anel frio da mira, deixei que a minha visão se habituasse í estranheza de um olho normal e outro com ampliação e miras desenhadas. Em pouco tempo, o trenó estava ao meu alcance.
Reduzi a respiração. Coloquei a mira no local mágico, aquele ponto mesmo por trás da orelha, onde o barrete vermelho deixava ver fartos caracóis grisalhos.
Inspirei profundamente. Deixei que o meu dedo se afundasse no gatilho, percorrendo lentamente metade do caminho. Deixei sair o ar dos pulmões, naturalmente, sem pressa…
Disparei.
O velho estremeceu e caiu para a frente. As Renas entraram em pânico e numa manobra desesperada aterraram mesmo no meu telhado.
Puxei o ferrolho da Remington e a bala utilizada saltou, quente, e aterrou com um tilintar melodioso nas telhas. Fechei a câmara e pousei a arma.
Levantei-me.
Dirigi-me ao Rudolph e entreguei-lhe o dinheiro combinado. Acho que ficámos amigos.
Correu tudo bem. Já tenho o fato do velho e as Renas concordaram em fazer mais um serviço.
Vemo-nos mais logo…
hummm… O último post (Kalinka) datava de 26 de Fev de 2001 e este é de 24 Dez 2001… É um daqueles “buracos” no tempo, ou ainda estás para recompor alguns posts aqui nesta ‘zona’?