Placebo no Coliseu

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Hoje passei um domingo relativamente calmo, í  espera que fosse altura de ir para Lisboa. Saí­, com a Dee, por volta das sete e meia, deixámos o carro na rua onde mora o ADSS e fomos a pé para o Coliseu, que é ali perto, para assistirmos ao concerto dos Placebo.

Entrámos e sentámo-nos no chão, como habitualmente e tive quase de imediato um desconforto brutal, sentado no chão, rodeado de dezenas de putos de 16 anos a enrolar charros.

Não se vale a pena iniciar um grande discurso sobre este assunto. A verdade é que nunca gostei de adolescentes, mesmo quando era adolescente. Odiava os meus colegas de escola e as suas atitudes padronizadas que cabiam tão bem nas descrições dos livros de psicologia. Estar ali no meio daquela putalhada toda fez-me sentir mal.

Há coisas para as quais já não tenho paciência.

O concerto começou com os Sneaker Pimps, que conhecia apenas por alto, sabia que costumavam ter uma tipa a cantar que entretanto tinha saí­do da banda, tornando-a um pouco menos interessante. Mas por acaso até gostei, teve a sua piada.

Por esta altura já umas miúdas faziam cornos com os dedos de ambas as mãos, cruzando os pulsos acima da cabeça, provavelmente aquilo terá alguma espécie de efeito.

Já para o fim da actuação dos Sneaker Pimps, comecei a compreender porque é tão importante ensinar que as artes marciais devem ser usadas para defesa. O potencial malévolo de um qin na ou de uma garra de tigre í  garganta, ou de uma garra de grou aos rins é fenomenal. Todo o tempo tive que tentar não pensar muito nisso, imaginar a alhada que seria se tivesse mesmo resolvido desancar o tipo que a meio do concerto resolveu meter-se í  minha frente, não parando, ainda assim, de olhar para as bancadas em vez de para o palco. Se estava interessado na bancada, porque raio é que não se pirava para lá?

Passou. O concerto dos Pimps acabou e tivemos um intervalo. Um intervalo tão grande que se estava a tornar insuportável. Entretanto as pessoas iam falando sobre os concertos dos “Smashing”, dos “Guano” e mesmo dos “Sneaker”, mantendo viva a antiga tradição nacional de abreviar o nome das bandas usando sempre o adjectivo e não o substantivo, como seria mais lógico, portanto os “Pumpkins”, os “Apes” e os “Pimps”. Eu compreendo a facilidade, eu próprio por vezes digo os “Red Hot” enquanto logicamente, deveria usar os “Chilli Peppers”, mais uma vez, o adjectivo usado em vez do substantivo. Mas em determinados settings as coisas soam sempre pior.

Já estava quase a espumar enquanto um idiota tentava impressionar a namorada explicando que o Brian Molko usava uma rack, que era um conjunto de pedais. Uma rack não é um conjunto de pedais, aliás, uma rack, é apenas isso mesmo, rack, prateleira, estante… serve para montar os aparelhos, nomeadamente as “rack-mounted units”, podem ser servidores, ou processadores de efeitos de instrumentos musicais, que podem ser controlados por pedaleiras.

Será que isto interessa minimamente? Provavelmente não.

Começou finalmente o concerto dos Placebo. Eles entraram a abrir e eu nem ouvi sequer as três primeiras músicas. Não faço ideia quais foram. Toda a gente começou a saltar e de repente estava no meio de um mosh gigantesco, quase que fui ao chão duas ou três vezes, enquanto tentava manter-me de pé e impedir que algumas miúdas pequeninas fossem completamente esmagadas. Nesta altura já nem fazia ideia onde estava a Dee.

Foram as Doc Martens que me ajudaram um bocado, primeiro porque não senti nem uma pisadela, depois porque fiquei a dada altura com o pé preso e só não torceu completamente graças ao cano da bota (que me tinha lembrado de apertar até acima, felizmente) e depois porque quando me passei com aquela história toda, o efeito biqueirada com ponta de aço foi bastante eficaz. Deixaram-me mais ou menos em paz e cnoseguir avançar até chegar í  Dee, que tentava, sem sucesso, fotografar a banda.

Ela acabou por decidir sair dali, afasta-mo-nos para um dos lados da sala, completamente encharcados em suor.

Acabámos por ver o concerto bastante bem, sem nos chatearmos demasiado. No entanto não posso dizer que tenha gostado. Peço desculpa, se pareço um secas, velho, mas não fiquei com vontade nenhuma de voltar a um concerto de rock outra vez. O público a gritar mais alto que os músicos conseguem tocar, não é a minha ideia de um bom concerto, quando não consigo perceber que música está a ser tocada porque o som dos pés a saltar sobre a madeira do chão do coliseu é mais alto, então sinceramente prefiro ir para casa e por um CD a tocar.

Nem todos os concertos são como os do Jethro Tull, em que estive sentado duas horas a ver e ouvir uma das minhas bandas preferidas a tocar. Mas também não acho que os concertos tenham que ser como este. As pessoas adoraram. Os jornais adoraram. Aliás, adoraram ser adorados. À saí­da, os comentários eram “eles curtiram-nos bué”, que é como quem diz, eles vêm cá dar show para nós e nós estamos aqui para dar show para eles. Os jornais todos referem como o público foi magní­fico.

Deu para perceber: o importante é ser um bom público, não interessa se ninguém está ali para ver um concerto, mas apenas para suar, levar pontapés e gritar o mais alto possí­vel para que não se oiçam quaisquer pensamentos, o que interessa é que a banda diga “you’re a great audience!”.

Sabem que mais? Bah.

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