Sejam felizes e não me chateiem

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Queria dormir que nem um Abade (partindo do princí­pio que os Abades dormem tal como comem), mas não consegui, claro. Algures a meio da noite tocou o telefone, era um fax, mais uma vez. Tenho que mudar de número de telefone… Depois de manhã cedo voltou a tocar e pouco depois das oito a Amarela começou com os seus insuportaveis miados í  porta no nosso quarto.

Acabei por ficar na cama quase até í  uma da tarde, mas sem descansar nada de jeito. Inútil.

Saí­ para comprar comida de gato e pão, arrumei um bocado a cozinha e vim sentar-me em frente ao Amarok a trabalhar. Não era mesmo nada o que me apetecia fazer e, apesar de ter feito a maquete que tinha que acabar, não fiquei nada satisfeito com ela. Acho que ainda vou ter que começar do iní­cio novamente.

Foi um domingo mesmo seca.

À noite estive a passear-me pelo telemoveis.com, para ver se decido que telefone vale a pena comprar agora que o meu Ericsson parece ter morrido de vez. Eu queria comprar um Nokia 3210, porque não tem antena e não é demasiado pequeno. Odeio telefones demasiado pequenos, não é nada de especial, mas acho que dão pouco jeito.

Fiquei chocado com o telemoveis.com. Não me interpretem mal, o site está bem feito, não é o site, mas os utilizadores, pelo menos, os activos. Estive a ler os comentários ao Nokia e a vários outros telefones. Esperava algo do género “É um telefone assim, assim, gostei disto, não gostei daquilo.”, em vez disso encontrei uma infinidade de patetas com comentários juvenis sobre se o telefone é ou não bom para o engate porque as miúdas gostam, sobre se o telefone está ou não na moda, se é para betos ou para dreads e que modelos preferem para levar para bares em comparação com os que preferem para brilhar junto dos amigos.

Alguns modelos tinham comentários como “bom para quem apenas gosta de fazer e receber chamadas”… suponho que hajam outros telefones que sejam também úteis para outras coisas além das comunicações básicas a efectuar normalmente com um telefone… um dos meus conselhos para os fabricantes seria fazerem um telefone que também seja bom para “enfiar no cu”… ah, esperem… já são todos óptimos!! Aliás, a maioria dos tipos que tem comentários idiotas no site, podia bem pegar nos magní­ficos 600 telemóveis topo de gama que tem em casa, enfiados em gavetas porque estão “fora de moda” e fazer isso mesmo, mas atenção, teriam que os enfiar de lado e sem retirar a antena.

Maldito fetiche telefónico, porra de povo novo rico que nós temos. Que vergonha. Depois admiro-me que vejam o Big Brother.

Noutro dia apercebi-me que nunca vou poder falar do Big Brother, o “verdadeiro”, aquele que vem descrito no “1984”, do George Orwell, um dos meus livros preferidos, por acaso. Iria ter medo de ser mal interpretado, de dizer: “Já imaginaram, um mundo como o do 1984? Em que todos fossemos controlados e observados pela polí­cia do pensamento? Em que tivessemos que ser fiéis ao big brother?” e receber em resposta: “AH! Quem se safava bem aí­ era o Zé Maria”.

E depois caem pontes. E o que é que acontece? O mesmo que no bigbrother, claro. Horas e horas a fio de “spot the corpse”, as televisões não descolam, o paí­s não descola. Reina a hipocrisia. Arriscam-se vidas de mergulhadores, não porque realmente se queira encontrar alguma coisa no fundo daquele rio, mas porque é preciso FINGIR que se está preocupado, porque é preciso VOTAR nas próximas eleições. Os corpos estão a sair disparados pela Foz do Douro e a dar á costa na Galiza.

Não acham que é uma vergonha o que estão a fazer? Não acham que deviam parar com a palhaçada? Se calhar é impossí­vel parar a palhaçada no paí­s do circo…

O que eu gostava de ver era a equipa subaquática de jornalismo em directo. As três estações de televisão a transmitir, 24 horas, em directo do fundo do Douro. A operação seria capitaneada pelo José Rodrigues dos Santos e teria que ser toda feita em apneia.

Depois podia haver uma tabela de pontuação: um peixe morto, 5 pontos; um bote ancorados, 10 pontos; um mergulhador, 20 pontos; um mergulhador em apuros, 50 pontos, um corpo humano, 100 pontos.

Via-se assim quem ganhava a guerra das TVs.

Acho que muita gente confunde liberdade de expressão, com libertinagem de expressão.

Será possí­vel escrever uma espécie de testamento em que qualquer televisão que filme ou tente de qualquer forma filmar o meu corpo se eu morrer num acidente, tenha, imediatamente, que pagar uma idemnização de 500 mil contos í  minha famí­lia?

Estive a ler com agrado mais uma entrada no diário do ADSS, que já não escrevia há bastante tempo. Ele já é a segunda pessoa que me desafia a escrever qualquer coisa sobre as Noites Marcianas. Desta feita, desafia-me para um cartoon.

Sinceramente não sei o que dizer, escrever ou desenhar sobre as Noites Marcianas.

Acho que há coisas a que se calhar mais vale não dar qualquer importância. Não quis acreditar, na sexta-feira a meio da minha insónia, enquanto o comando da televisão (que é autónomo í  minha vontade), saltava entre porno, mtv, history channel e outros canais, quando vi o Tino Covilhão, aos saltos a cantar, nesse programa da SIC.

O que é que eu posso dizer a isto?

O que é que alguém pode dizer a isto? Nada.

As maioria é que manda. A maioria muda de telemóvel quando o deles passa de moda, alguns têm mesmo um modelo para durante o dia, um modelo para sair í  noite e outro para o fim de semana. A maioria compra jipes de 5 mil contos para subir passeios na selva urbana, jipes que nunca vêem lama na vida, mas que ficam bem com o modelo actual de telemóvel (um deles pelo menos). É a maioria que vê o big brother, os acorrentados e as noites marcianas. É a maioria que acha o American Beauty uma seca, mas adora o Gladiator.

Eu é que ainda vou ter alguma coisa a dizer? Para quê? Quem sou eu? Quem me dá o direito de dizer seja o que for? Quem se chateia no fim? Eu. Bah.

Sejam felizes e não me chateiem e o resto que se lixe.

 

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